Lillian Lee Belushi
2 participantes
Página 1 de 1
Lillian Lee Belushi
Sexo: Feminino
Idade: 15
Raça: Semideusa
Destreza: Direito
Características:
Positivas:
Agilidade, furtividade, inocência.
Negativas
Curioso, Casto.
História:
Se eu pudesse voltar no tempo... onde um futuro desse tipo poderia não ter acontecido. Se, naquele dia, eu não tivesse te conhecido, esse poderia ter sido um mundo inesperadamente chato.
Naquele dia... muito comum... Naquele dia, eu estava esfregando meus olhos vermelhos. Naquele dia ofuscante de verão... Certamente ... Eu não vou esquecê-lo amanhã, também.
Amber, Maine
Era o inicio do verão, as aulas acabariam em menos de um mês e eu estava sendo transferida de colégio. A vida era absolutamente ordinária, tão ordinária quanto poderia ser para mim.
Minha mãe havia morrido quando eu nasci e meu pai antes disso, então fui mandada para um orfanato. Aos três anos de idade, fui adotada mas menos de um ano depois, me mandaram de volta pois o casal tivera um filho.
Agora... bem, agora minha guarda estava nas mãos de uma empresa de advocacia. Parecia que meu pai era membro deles antes de morrer e havia pedido no testamento para que cuidassem de mim, então...
Em breves palavras, eu era rica embora odiasse isso. Eu morava sozinha na cidade, em um apartamento flat. Eu normalmente tinha problemas na escola, mas não eram culpa minha.
A minha relação com as pessoas... bem, era complicado.
Quando alguém se aproximava demais, coisas ruins aconteciam.
Mas, lá estava ele. A partir daquele dia, o mundo mudaria e os céus começariam a se mexer, na sua trama eterna para me destruir.
- Muito bem, todos sentados - pediu o professor - Temos uma nova estudante hoje!
- Ah... Meu nome é Lillian. É um prazer conhecer todos vocês.
Aqueles olhos azuis estavam lá, me observando. Os cabelos loiros eram tão claros que pareciam ser brancos e ele era uma estranha mistura de príncipe e rebelde.
Eu sorri, me refletindo quanto tempo eu aguentaria.
Alguns meses depois...
Sentada naquele balanço como sempre, eu olhava a neve cair preguiçosamente naquele dia 4 de fevereiro. O dia estava agradável e frio, as nuvens cobriam o céu, mas haviam veios de luz entre elas.
Alguém colocou um fone de ouvido na minha orelha e eu apreciei a musica por uns segundos. Depois, falei o nome da musica e da banda.
- Correto novamente - informou Joseph, se sentando no balanço ao lado, nós dois ligados pelos fones de ouvido. Na sua mão direita, ele carregava uma garrafa térmica e na esquerda, a sua mochila.
- Parece aquele dia -falei, remexendo a neve aos meus pés sem ter nada para fazer. Um floco caiu no meu nariz e se desfez em água. O menino de cabelos louro-prateados também olhou para o céu com a memória.
- Aquela foi a primeira vez que você chamou o meu nome - ele se lembrou - Agora você me chama basicamente todos os dias para te ajudar.
- Ei! - critiquei ele. Seph estendeu para mim um copo fumegante de chocolate quente que ele havia servido - Hoje você vai cozinhar.
- O que? - ele falou, chocado, olhando para mim. Como resposta dei um sorrisinho - Você não estava falando que ia comer uma pizza agora a pouco?
- É o meu pagamento - expliquei, tomando um longo gole do chocolate fumegante - Você é o melhor cozinheiro que já vi.
- Obrigada, srta. Belishi - ele respondeu enquanto eu passava a xícara para ele - Aposto que você come porcaria todo o dia. É mesmo uma criança!
- Sim, sou uma criança! - falei para ele, dando a língua. Seph tomou um gole de chocolate quente como resposta - Hey, Seph. Obrigada por resolver para mim o problema da Lisa outro dia. Se eu fosse expulsa por causa daquilo, não saberia o que fazer.
- Isso não é óbvia? Eu iria atrás de você se você fosse expulsa, Lilly - ele falou, guardando o chocolate quente na mochila - Sei que não foi uma ilusão, a Lisa. Confio em você. E você não duraria cinco minutos sem mim.
- Obrigada - disse, irônica - Quem é a criança aqui, agora?
- Continua sendo você.
- Ah, vai catar...! - eu me interrompi no mesmo instante, depois de refletir um instante - Quer saber, é verdade. Se eu fosse uma adulta, me sentiria realmente desprotegida. Diferente de você, eu sou uma idiota. Não posso fazer nada por mim mesma, uma realmente inútil. Se eu não tivesse os adultos para me ajudar, não sei o que faria.
- Você é sincera demais - Joseph comentou, bagunçando os meus cabelos. Os fios negros se espalharam pela minha face e eu encarei seus olhos azuis, embora ele olhasse para algum ponto do horizonte. Eram estranhos: límpidos, claros e cristalinos, como uma lagoa. Mas eram quentes e passavam uma sensação de tranquilidade - Eu te ajudarei a resolver os seus problemas, você sabe.
- Masoquista. Eu queria te ajudar também - ambos rimos.
Antes de irmos para a minha casa, passamos na loja de conveniência para comprar o que precisávamos para fazer um jantar. Eu era uma grande desastrada em cozinhar e minhas habilidades só atingiam dois campos: desenho e leitura. Notas? Desastre. Esportes? Desastre. Tarefas domesticas? Desastre.
Literatura? Desastre.
Eu tinha dislexia e mesmo assim gostava de ler. Eu sei, isso é estranho. Esse habito foi passado a mim por uma amiga minha chamada Lea: ela era muito estranha. No colégio, ela era uma loba solitária igual a mim, quando nos tornamos amigar era muito estranho nós ver juntas. Também era um rato de biblioteca que amava contos mitológicos e historia onde meninas viravam mais que amigas.
Haviam vários livros desses na biblioteca, até ela roubar todos. Ela fez a sua própria biblioteca particular, então... coisas ruins aconteceram…
Já desenho... bem, eu já era boa nisso quando era pequena, mas desenhar virou verdadeiramente um habito quando eu estava sobre a guarda de uma mulher chamada Violet. Ela tinha bastante dinheiro e era bem rica, porém não tinha filhos. Foi a última pessoa que me foi a minha tutora antes de eu ficar na custodia da empresa de advocacia, mas ela queria ser minha mãe adotiva.
Em poucas palavras, a minha vida lá era um inferno. Haviam duas pessoas que eu gostava lá: Lucca, um empregado italiano que deveria ter uns dezessete na época e um menino.
Se eu desenhava, era culpa daquele garoto. Não me lembro do rosto ou do nome dele, mas por alguma razão não podíamos nós falar, então desenhávamos. Talvez ele tivesse mais ou menos minha idade nós dias de hoje. Alguns meses mais velho, talvez?
Coisas ruins aconteceram com aqueles dois também.
- Lillian? Está tudo bem? - Seph perguntou. Eu havia ficado um pouco aérea alguns momentos. Eu corei e peguei a sacola de supermercado.
- Sim. O que teremos para a janta hoje? - perguntei para o garoto. As vezes eu me perguntava onde Joseph morava: costumávamos nós encontrar no parque onde eu estava depois das aulas e ficávamos andando pela cidade ou íamos até o meu apartamento.
Havia uma espécie de acordo entre mim e Seph: exceto pela hora do almoço onde poderíamos fugir da sala, não conversávamos na classe. Pessoas poderiam entender aquilo de maneira errada: eu era a menina mais popular e odiada da sala e ele o garoto mais popular da escola. Normalmente, ele fazia varias meninas chorarem quando recusavam as suas declarações e eu... bem, os meninos haviam parado de me encher quando perceberam que eu não queria nada com ninguém mas eu ainda recebia bilhetinhos e era bastante odiada pelas meninas.
Uau, que novidade. Me odiavam. Pelo menos, nada mais grave havia acontecido... que Seph ficasse sabendo. De certa maneira, ele e Lea eram iguais: extremamente possessivos. Lea se virou contra varias pessoas para me proteger, igual a Seph...
Eu não conseguiria meter os dois em apuros por uma situação tão simples.
- Eu estava pensando em fazer bife a bife de frango parmegiana e macarrão ao alho e óleo - ele comentou, corando. Minha boca se encheu de água com a perspectiva de comer algum macarrão que não fosse yakisoba comprado no restaurante chinês ou noodles instantâneos.
- Ah, é mesmo! Sua mãe é da italiana, né, Seph? - perguntei e imediatamente percebi que não deveria ter tocado no assunto. Eu evitava falar sobre a minha família com outras pessoas, mas para ele... aquilo era um verdadeiro tabu.
- É o que me dizem - ele comentou, frio. Sua voz era como uma lagoa... clara, fria. Estranha.
Então paramos repentinamente e eu tampei a minha boca para não gritar. Outra pessoa fez isso por mim, uma menina que tinha uns doze anos.
A visão era terrível e, de certa forma, eu não conseguia parar de olhar para ela. Do outro lado da rua, o pequeno corpo estava incapaz de fechar os olhos. Ele olhava para o céu que começava a escurecer, buscando alguma estrela. A neve ficava vermelha e derretia com o contato com o seu sangue.
O menino estava morto, pedaços de vidro fincados no seu corpo e seus membros espalhados em posições estranhas. Ele havia sido atropelado por um caminhão.
Eu queria ir até a menina que chorava e consola-la, mas Seph tampou os meus olhos. Um coro inquieto ressoava nos meus ouvidos, dizendo que aquilo estava errado... não era a hora ainda. Aquilo não precisava de acontecer...
- Não olhe - ele me aconselhou. Eu queria agradecê-lo por ter feito aquilo, caso contrario, nunca desviaria os olhos do corpo. Mas eu queria ter uma última visão daquilo... - Vamos por outro caminho, ok?
O seu tom de voz tornava claro que o acidente não era a única coisa que o fazia sugerir aquilo.
Cozinhamos e comemos em silencio chegando em casa. Como poderíamos ter uma noite animada se havíamos visto o futuro ser pisoteado do outro lado da rua?
Não aguentando mais o clima tenso que havia se instalado na mesa, eu me levantei e fui até o banheiro. Trancando a porta atrás de mim, liguei a torneira e me encarei no espelho. Meu cabelo negro estava um pouco desgrenhado e a minha pele mais pálida que normal. Assim como Seph, eu também tinha olhos azuis, embora fossem mais escuros e tivessem pequenas manchas de cor mais clara. De qualquer forma, aqueles eram olhos amaldiçoados.
Quem olhasse para eles desaparecia. Havia sido assim com ele, com Lucca e com Lea. Quanto tempo demoraria para que Seph também deixasse de existir?
Por que... por que eu ainda não havia desaparecido? Por que eu tinha que aguentar toda a dor dos que ficaram?
Em um gesto instintivo, eu ergui a minha mão e quebrei o espelho. Os cacos feriram meu punho e alguma força me empurrou para trás. Eu bati a minha cabeça contra a porta e minha visão ficou escura.
Eu tinha uma leve sensação do que acontecia a minha volta... a porta se abriu, Seph gritou. Me senti sem peso, então senti o chão em baixo de mim. Quando abri os olhos, aqueles dois olhos azuis me encaravam com intensidade.
Gritei e tampei o meu rosto.
- Não olhe! - implorei, chorando. A minha mão ferida doía demais, mas eu não me importava com isso - Por favor, não olhe! Se você olhar, vai desaparecer também!
- Lilly... - Seph falava com a voz tranquila. Alguma coisa quente como um cobertor caiu sobre a minha cabeça e eu a agarrei, tentado cobrir o rosto. A sensação era ligeiramente familiar... o moletom de Seph? A musica encheu os meus ouvidos e eu senti aquela mão quente do lado do meu rosto. Ele tirou as minhas mãos de cima dos meus olhos e me encarou fixamente - Eu também vivo com medo de desaparecer, mas a vida não seria bem melhor com isso?
Eu o abracei e as lagrimas rolaram pelo meu rosto. Seph ainda estava do meu lado, me consolando, quando eu parei, mas ele não fez nenhuma tentativa de tentar me fazer parar de chorar.
Eu me afastei um pouco do seu ombro e corei, percebendo o que havia feito. Tentei me afastar e encostei com a minha mão direita no chão. Gritei. A dor foi forte e a recolhi contra o corpo, manchando meu uniforme com sangue.
- AH! Me desculpe! Só um instante, Lilly! - ele parecia surpreso, como se tivesse esquecido completamente do estado da minha mão. Se fosse possível, ele estava ainda mais vermelho que eu. Seph pegou sua mochila, foi até mim e fez um curativo improvisado.
- Não... está tudo bem. Você queria ser médico, Seph? - falei, observando o curativo. Era incrivelmente bem feito e parecia que o garoto mantinha itens de primeiros socorros consigo.
- Não, é apenas um truque útil que eu aprendi - ele disse, constrangido. Eu desviei o olhar pois não havia mais nada para fazer - Lillian, você é surpreendente. A cinco segundos atrás, você estava chorando e agora já voltou para a sua personalidade alegre.
- C-cale a boca! - falei, corando bastante. Eu ia usar a minha mão direita para tampar meu rosto, mas a dor me impediu de fazer qualquer coisa. Suspirei - Ei, Seph...
- Certo. Isso é tão bonitinho que me faz querer vomitar. Podem parar logo com isso e começarmos a falar do que importa? - uma voz feminina perguntou. Me virei rapidamente: havia alguém no vão da porta - Lillian Lee Belushi... eu estou aqui para tomar a minha alma de volta.
Aquela era... eu? Os mesmos cabelos negros, os mesmos olhos azuis... Porém ela tinha uma aparência psicopata no rosto. Com a mão direita, segurava um pedaço de vidro.
- Há quanto tempo - comentou Seph. A menina imediatamente o encarou e ficou pálida - Lilly… Fuja. Você sabe bem onde me encontrar. Fique o mais longe que puder.
- Você... Você!! - a outra eu gritou. Eu simplesmente queria me encolher - Sabe o que é ficar presa naquela droga de espelho por seis anos??
- Você não se lembra do Tártaro? - ele perguntou. Eu me perguntava como Seph queria que eu fugisse naquela situação, exceto que ele esperasse que eu pulasse a janela...
Se bem que estávamos no primeiro andar.
- Estou aqui apenas para tomar a minha alma de volta! - ela gritou. Gelo percorreu o meu corpo - Fique fora disso!
Antes que qualquer um de nós dois pudesse reagir, ela atravessou o cômodo em velocidade inacreditável. Seph me jogou para o lado, assim como jogou a outra Lillian. Eu senti que ele colocava algo em minha mão. Ela teve um pouco mais de sorte em aterrissar que eu.
- Saia do meu caminho!
- Lillian! Agora!
Eu corri, apertando o que quer que Seph havia me dado, e me joguei na janela. O vidro cedeu e quebrou enquanto eu despencava em rumo ao chão, mas os meus cortes foram superficiais. Uma árvore amorteceu a minha queda.
Suspirei. Parecia que estava tudo bem, exceto pelo barulho de metal contra metal que vinham do andar de cima. Olhei para o que Seph havia me dado: uma faca ou adaga. Era estranho não ter me cortado.
Desci da árvore da melhor maneira que eu consegui. Os sons haviam parado no andar de cima. Disparei pela recepção e pela escada, chegando no apartamento.
Eu tentei abrir a porta. Trancada.
- Vamos! Abra! - falei comigo mesmo, tentado abrir a porta, a adaga na outra mão. Finalmente desisti e dei um passo atrás, chutando a fechadura e a quebrando. Escancarei a porta.
Lá estava Seph, estranhamente imóvel: Lillian tinha as mãos na sua garganta. Ela sequer olhou para mim, tão entretida na tarefa de mata-lo que estava.
- Não toque nesse homem - falei, com a voz fria. Sem hesitação, eu havia atravessado a sala e fincado a adaga nas costas dela sem nenhum remorso - Pois ele me pertence.
A Lillian falsa de desfez em pó e eu cai de joelhos. Seph se levantou assim que o peso saiu de cima dele e me abraçou. Não precisava. Eu faria aquilo de qualquer maneira, buscando algo familiar.
- Desculpe-me, Lilly - ele murmurou no meu ouvido. Eu tremia das cabeças aos pés, sem saber o que aconteceria em seguia - Eu juro que te explicarei tudo mais tarde, mas agora concentre-se em ficar viva.
New York, New York
Eu me joguei na cama e fechei os olhos por um segundo, tentando me lembrar onde estava e que nome falso eu estava usando. Lillian Redmont. Ou era Lillian Castlemont?
Não fazia diferença. Eu teria que fugir de lá, logo. O dormitório feminino estava em completo silencio. Eu estava sozinha ali.
Eu tinha que começar a juntar as coisas que eu não havia roubado dali e preparar a minha mala, mas algo me impedia. Durante cinco meses, as coisas haviam corrido daquela maneira: encontrávamos uma casa que estava vazia ou um colégio e convencíamos as pessoas com a Névoa que ou sempre havíamos morado lá, ou estávamos nós mudando e éramos novos na região. Quando monstros atacavam, só lutávamos quando o necessário e tentávamos fugir o mais rapidamente.
A historia oficial é que Lillian Lee Belushi e Joseph Wright, filho da famosa empresaria Emilia Wright, haviam sido sequestrados no dia 13 de fevereiro em Amber enquanto iam para a casa da garota. O estratagema havia funcionado bem até agora: se precisássemos de dinheiro, ligávamos para a companhia de advocacia e eles transferiam quantos dólares precisássemos para o meu cartão, então sacávamos tudo no caixa eletrônico mais próximo e dávamos um jeito de sumir da face da terra até as investigações no local tivessem cessado.
Eu desconfiava de Seph: havia escutado o sobrenome dele apenas uma vez e tinha certeza que não era Wright. Ele estava escondendo coisas de mim, eu sabia disso, mas não fazia diferença: ele havia mentido para mim desde o dia que nós conhecemos até o dia que a Lillian espelhada havia surgido no meu apartamento.
Aparentemente, as coisas continuariam assim por mais um tempo. Eu me levantei da cama e me sentei na janela, observando o dormitório masculino do outro lado. Se eu ou Seph quiséssemos, poderíamos invadir o quarto um do outro a partir de uma grande árvore que havia entre os dois dormitórios: os quartos eram um na frente do outro. Ele estava tocando piano quando eu olhei e sorri: piano, além de esgrima e varias outras coisas, eram uma das habilidades dele que eu havia descoberto nos últimos meses.
Ele me viu e eu corei, desviando a face para o outro lado. Era tarde demais para fingir que eu estava olhando por acaso. Seph foi até a janela e pegou um bloco de desenho. Quando eu li o que estava escrito, eu quase soquei o seu rosto.
Você está bem?
Bem quanto possível, respondi, usando uma folha que estava perto de mim e caneta vermelha. Eu o observei enquanto virava a folha do bloco e escrevia alguma outra coisa. Tamborilei os meus dedos pela janela.
Você consegue desenhar?, estava escrito no papel. Eu quase dei um sorriso tímido. Ao lado da caligrafia em azul, havia um desenho, talvez representando o próprio Seph. Usando o verso do papel, eu respondi.
Um pouco, estava escrito, com uma menina desenhada me representando. Ai eu verdadeiramente sorri. Guardanapos, menus, folhas de caderno... sempre que eu podia, eu desenhava tentando buscar um pouco de normalidade. Eu me sentia bem, podendo desenhar com tempo, e como Seph fazia aquilo era nostálgico. Acrescentei mais algumas palavras na folha: espere ai.
Voltei alguns segundos mais tarde com um bloco de desenhos igual ao de Seph. Ficamos a tarde inteira naquilo, até que o sol se posse e não houvesse muita luz para nos enxergarmos. O menino iria desenhar uma última coisa, mas desistiu e guardou o bilhete dentro do bolso.
Precisamos conversar, espere um pouco, ele escreveu no lugar e abriu a janela de seu quarto, saltando para a árvore e depois para o meu quarto.
- Vamos ter que nós mudar de novo - ele falou, sem rodeios, se ajeitando na minha cama.
- O que? - falei, chocada. Nunca havíamos ficado tão pouco tempo em um lugar só: o atual campeão era Vegas, de onde havíamos fugido em dois dias. O tempo recorde era San Francisco: pelo visto, Seph tinha conhecidos por lá, embora eu não tivesse encontrado nenhum - Estamos aqui há umas doze horas!
- Já nós acharam... - ele falou, suspirando. O gelo percorreu a minha espinha e eu sabia que era bom eu arrumar as malas.
- Monstros? - perguntei, por mera força de habito. Humanoides, bestas: quase todos queriam nós matar.
- Não - ele respondeu, negando com a cabeça - Uma coisa um pouco pior... são pessoas como nós.
- Como assim...
- Eles ouviram rumores que dois como eles estão por aqui - Seph explicou pacientemente - Normalmente, deixariam que essas pessoas fossem até eles, mas na situação atual... bem, eles querem saber se terão novos recrutas ou dois inimigos para matar.
- E?
- Você não os conhece como eu conheço. Lilly, eu não vou te deixar morrer, mas também não posso te entregar para eles - havia algo diferente na voz de Seph. Misturado com a sua determinação havia... desprezo?
- Antes de irmos... - eu murmurei. Quando percebi que estava falando o que vinha a mente, me calei - Não, esqueça. Vou tomar um banho e arrumar as minhas coisas. Te encontro daqui a pouco.
(...)
Cinco minutos depois de sairmos do prédio, já havíamos enganado todos os seguranças e estávamos esperando um taxi quando começamos a ouvir lobos. Instintivamente, toquei a adaga que eu mantinha escondida nas vestes. Seph também estava nervoso.
Depois desse silencio que durou por tempo indeterminado, o taxi chegou. Não houve brigas, não houve discussões. Normalmente dávamos para o motorista um rolo de notas e pedíamos para ele rodar para fora da cidade o quanto aquilo durasse enquanto discutíamos o que faríamos a seguir. Nesse caso, eu estava absolutamente perdida.
- Farm Road, 3.141. Pode cobrar o dobro se for depressa - Seph pediu, com poucas palavras.
- Protetor?
- Estou mais para um refugiado - ele explicou. "Refugiado", o garoto me dissera, era um termo comum para pessoas como nós: que estavam constantemente mudando de lugar e que atraiam monstros. Quanto a protetor... eu não fazia ideia.
Mas o motorista pareceu entender e disparou pela estrada escura. Em quinze minutos, o carro parou e descemos. Seph jogou um grande rolo de notas no banco de trás, provavelmente tudo que tínhamos no momento.
Havia uma floresta lá perto. Começamos a correr para lá.
- O que você está fazendo, alien pervertido? - exigi, o seguindo de perto. Registrei o fato de como ele parecia estranho naquele momento: distante... surreal.
Frio.
- Eu já te disse. Tentado te manter viva.
- E você, Seph? - perguntei. Eu confesso: era uma criança chorona - O que você acha que eu vou fazer se eu morrer? Eu já te disse, sou uma idiota. Não vou aguentar nem cinco minutos sem você! E eu estou chorando agora, droga!
- Lillian! - ele pareciam um pouco... impressionado. Paramos e eu enxuguei as lagrimas do meu rosto, o encarando fixamente. Aqueles "olhos"... "Eu tenho medo de desaparecer também", o que ele queria dizer com aquilo? - Eu não vou morrer!
- Promete? - perguntei, soando como uma criança. Eu estava prestes a chorar de novo.
-Francamente, Lilly. Você acha que eu faria algo assim? Sempre que você quiser, eu estarei do seu lado. Eu te... - seus olhos ficaram opacos e uma pequena lagrima deslizou pelo seu rosto.
Era a primeira vez que eu o via chorar. Então Seph olhou para um ponto atrás de mim e arregalou os olhos enquanto caia. O sangue empapava o lado direito do seu corpo.
Eu gritei.
- Um traidor a menos - constatou a pessoa que o havia atacado. Eu não saberia dizer exatamente se era um garoto ou uma garota: esguio, porém alto demais. Sua voz me enganava, seu rosto me enganava. E eu estava simplesmente chocada. Saquei minha faca - Ei, você vai seguir os passos desse covarde?
- Ele não...
- Sim, ele sim. Fugiu de todos nós. Tudo por que ele era covarde demais para lidar com algumas mortes e tinha medo que a sua preciosa boneca de trapos morresse... você vai seguir os passos dele? Ou vai se mostrar uma nova recruta? - ela falou [e assim me referirei]. Mas o inicio foi o que me chocou. Não... estava errado. Eu era uma idiota, uma covarde chorona, mas Seph não havia desistido de mim. Ele não faria aquilo.
De certa forma, eu vi que a morte não era tão repugnante assim.
- Que mente pequena... - Seph falou com uma risada sem emoção. Eu me virei rapidamente e o vi pressionando o machucado - Não pense que eu vou morrer só com isso. Lilly!
- Sim? -perguntei, mesmo sabendo o que ele diria.
- Se você continuar descendo a partir daqui... encontrará um riacho. Siga o curso dele e vai chegar em um lago. Você vai estar a salvo lá. Não se importe comigo, apenas vá! - ele pediu, mas fraquejou. Eu me impedi de estraçalhar a maldita travesti.
- Já acabaram? - a garota com a adaga perguntou. Ela parecia estranhamente camuflada em meio a escuridão.
- Quem disse que você tinha escolha? - Seph me empurrou para o lado e sacou as suas armas, duas adagas, e avançou. Eu comecei a correr na direção oposta, chorando.
Não morra... seu idiota...
Eu apenas corri, corri e corri. Meu desejo era de voltar... ajudar aquele grande imbecil. Havia tanta coisa que eu queria dizer quando estivéssemos sozinhos, eu simplesmente não encontrava palavras.
Eu tinha medo de colocar aquilo no papel, com medo do que eu poderia criar. Eu tinha medo que a chuva viesse e trouxesse o fim daqueles dias de inocência.
Ele não se importava. Seph havia encarado a chuva e cuspido nela. As lagrimas se misturavam com o meu suor. Cair e morrer parecia uma boa opção.
Então eu percebi... que aquilo estava errado. Parei bruscamente e virei para o outro lado no instante que eu vi o riacho. Pulando sobre um tronco caído no meio do caminho, eu sabia exatamente o que tinha que fazer.
Eu iria salvar aquele idiota.
O metal se chocando contra metal foi o primeiro som que escutei quando me aproximei de onde Seph e a garota duelavam. Algo estava estranho: enquanto eu observava das sombras, percebi que Seph fazia movimentos desnecessários demais, as vezes atacando onde sequer era preciso.
Ilusões, mas aquela era uma ilusionista fraca: para criar tantas ilusões convincentes, ela estava se esforçando ao máximo. Eu peguei uma pedra que estava perto de mim e joguei nela, gritando. Ela olhou para mim, desviando os olhos de Seph e este a matou sem pensar duas vezes.
A ilusionista desapareceu em uma explosão de pó e o garoto cedeu. Eu corri até lá e o segurei da melhor maneira possível antes que ele caísse no chão. Eu cai também.
Tudo iria acabar daquela maneira por causa de um copiador?
- É minha culpa, não é? - eu perguntei, lagrimas despencavam do meus olhos. Era óbvio que Seph estava muito ferido: as suas roupas estavam ensopadas de sangue e ele tremia, frio.
- Não, foi a minha escolha - ele disse, com um pequeno sorriso. O menino afastou os cabelos da minha face - Era melhor isso que fazer nada. É tarde demais para eu me redimir de meus erros, também.
- Mesmo eu sendo falsa?
- Você não é falsa, Lilly... - Seph começou a fechar lentamente os olhos. Eu aproximei lentamente a minha face da dele - Você é e sempre foi... a Lilly. A raiva, a simpatia, a tristeza, a determinação, o desanimo e também o sorriso... eles eram só seus.
- Não me deixe sozinha - pedi, meu rosto molhado. Encostei a minha testa na dele. Os olhos de Seph estavam vermelhos, a sua respiração estava estranha. Os lábios dele estavam rachados...
- Nós vamos nos encontrar de novo - ele disse. Provavelmente, eu me machucaria muito se fizesse aquilo... - Talvez você não saiba quem sou eu e eu não saiba quem é você, mas prometo que nós encontraremos novamente.
- Sim... ai não haverão mentiras e então conversaremos sobre tudo! - eu falei, tentando soar animada com aquilo. Nossos rostos se encontraram. Ele colocou algo na minha mão e eu a acariciei com carinho: era um colar de cristal e havia alguma coisa dentro.
E aquele gesto doeu muito dentro de mim, mas era surpreendentemente quente o contato com o rosto do menino.
- É quente, como se eu estivesse segurando a sua mão...
- Não diga coisas estranhas - ele me censurou - Obrigada, Lillian. Desculpe... eu estou indo na frente.
E ambos fechamos nossos olhos, Seph pela última vez.
Ah... eu vou... desa-desaparecer...
Eu... eu até... pensei em um bom nome... para mim...
Eu não tenho nada mais...
Sua idiota! O que você quis dizer com "não ter nada"?
Qu-em?
Eu sou um semideus refugiado. Meu nome... não, meu nome não passa de uma marca.
M-as... eu sou...
Se esse é o caso, sua tábua, você ignorou tudo que eu disse. Quem era... que vivia arrumando confusões todos os dias? Você se lembra, não é? Da nossa dor... e da nossa alegria. Elas eram nossas.
El-as eram... minhas?
Então, grite!
Gri-te?
Eu vou lutar com você. Afinal você é a minha... mal-humorada, charmosa e complicada... parceira.
A minha boca se mexeu, mas o som não saiu. A palavra que eu iria falar parecia distante e desconexa. Tentei descobrir que lado era para cima e julguei que era a direção oposta ao frio chão onde eu estava.
Não era trevas nem luz. Simplesmente era o espaço interminavelmente vazio. De certa forma, consegui me levantar da primeira vez que tentei e comecei a andar, logo chegando a uma parede alta e interminável.
Ela era toda feita de vidro. Atrás do muro, eu conseguia ver alguém: era um garoto, embora eu não pudesse ver o seu rosto claramente.
Sem pensar muito bem, eu corri até lá e falei algumas palavras. Ele não deu sinal de entender, então comecei a bater no vidro. Alguma hora, me cansei e desabei de joelho.
Nisso, ele tirou algo do bolso: uma caneta. Em poucos segundos, estava escrito na parede em uma caligrafia e letras que eu já conhecia muito bem...
Questionário:
I) Qual desses adjetivos te descreve melhor?
e) Reservado.
II) Se um dos seus amigos sumisse, o que você faria?
d) Sentaria para pensar – sem agir precipitadamente – tomando assim melhor decisão pensada.
III) Nas horas vagas, você gosta de:
g) Pensar na vida.
IV) Sobre a sua família:
e) Sempre estamos juntos, mesmo nas viagens ou nas encrencas.
V) Qual estilo de luta se aproxima mais do seu:
c) Começo a atacar de longe, atirando coisas.
VI) Você está passando pelo bosque quando vê um cara tentando pôr fogo nas árvores. O que você faz?
f) Xingo o imbecil que está cometendo esse crime.
VII) Como seria seu par perfeito, mais ou menos?
g) Pode se adaptar a qualquer situação inconveniente.
VIII) O que mais gosta (ou gostaria) de fazer nas férias?
f) Conhecer outros lugares e pessoas.
IX) Se você pudesse escolher seu(sua) pai/mãe divino(a), quem seria?
Hades
Idade: 15
Raça: Semideusa
Destreza: Direito
Características:
Positivas:
Agilidade, furtividade, inocência.
Negativas
Curioso, Casto.
História:
Se eu pudesse voltar no tempo... onde um futuro desse tipo poderia não ter acontecido. Se, naquele dia, eu não tivesse te conhecido, esse poderia ter sido um mundo inesperadamente chato.
Naquele dia... muito comum... Naquele dia, eu estava esfregando meus olhos vermelhos. Naquele dia ofuscante de verão... Certamente ... Eu não vou esquecê-lo amanhã, também.
Amber, Maine
Era o inicio do verão, as aulas acabariam em menos de um mês e eu estava sendo transferida de colégio. A vida era absolutamente ordinária, tão ordinária quanto poderia ser para mim.
Minha mãe havia morrido quando eu nasci e meu pai antes disso, então fui mandada para um orfanato. Aos três anos de idade, fui adotada mas menos de um ano depois, me mandaram de volta pois o casal tivera um filho.
Agora... bem, agora minha guarda estava nas mãos de uma empresa de advocacia. Parecia que meu pai era membro deles antes de morrer e havia pedido no testamento para que cuidassem de mim, então...
Em breves palavras, eu era rica embora odiasse isso. Eu morava sozinha na cidade, em um apartamento flat. Eu normalmente tinha problemas na escola, mas não eram culpa minha.
A minha relação com as pessoas... bem, era complicado.
Quando alguém se aproximava demais, coisas ruins aconteciam.
Mas, lá estava ele. A partir daquele dia, o mundo mudaria e os céus começariam a se mexer, na sua trama eterna para me destruir.
- Muito bem, todos sentados - pediu o professor - Temos uma nova estudante hoje!
- Ah... Meu nome é Lillian. É um prazer conhecer todos vocês.
Aqueles olhos azuis estavam lá, me observando. Os cabelos loiros eram tão claros que pareciam ser brancos e ele era uma estranha mistura de príncipe e rebelde.
Eu sorri, me refletindo quanto tempo eu aguentaria.
Alguns meses depois...
Sentada naquele balanço como sempre, eu olhava a neve cair preguiçosamente naquele dia 4 de fevereiro. O dia estava agradável e frio, as nuvens cobriam o céu, mas haviam veios de luz entre elas.
Alguém colocou um fone de ouvido na minha orelha e eu apreciei a musica por uns segundos. Depois, falei o nome da musica e da banda.
- Correto novamente - informou Joseph, se sentando no balanço ao lado, nós dois ligados pelos fones de ouvido. Na sua mão direita, ele carregava uma garrafa térmica e na esquerda, a sua mochila.
- Parece aquele dia -falei, remexendo a neve aos meus pés sem ter nada para fazer. Um floco caiu no meu nariz e se desfez em água. O menino de cabelos louro-prateados também olhou para o céu com a memória.
- Aquela foi a primeira vez que você chamou o meu nome - ele se lembrou - Agora você me chama basicamente todos os dias para te ajudar.
- Ei! - critiquei ele. Seph estendeu para mim um copo fumegante de chocolate quente que ele havia servido - Hoje você vai cozinhar.
- O que? - ele falou, chocado, olhando para mim. Como resposta dei um sorrisinho - Você não estava falando que ia comer uma pizza agora a pouco?
- É o meu pagamento - expliquei, tomando um longo gole do chocolate fumegante - Você é o melhor cozinheiro que já vi.
- Obrigada, srta. Belishi - ele respondeu enquanto eu passava a xícara para ele - Aposto que você come porcaria todo o dia. É mesmo uma criança!
- Sim, sou uma criança! - falei para ele, dando a língua. Seph tomou um gole de chocolate quente como resposta - Hey, Seph. Obrigada por resolver para mim o problema da Lisa outro dia. Se eu fosse expulsa por causa daquilo, não saberia o que fazer.
- Isso não é óbvia? Eu iria atrás de você se você fosse expulsa, Lilly - ele falou, guardando o chocolate quente na mochila - Sei que não foi uma ilusão, a Lisa. Confio em você. E você não duraria cinco minutos sem mim.
- Obrigada - disse, irônica - Quem é a criança aqui, agora?
- Continua sendo você.
- Ah, vai catar...! - eu me interrompi no mesmo instante, depois de refletir um instante - Quer saber, é verdade. Se eu fosse uma adulta, me sentiria realmente desprotegida. Diferente de você, eu sou uma idiota. Não posso fazer nada por mim mesma, uma realmente inútil. Se eu não tivesse os adultos para me ajudar, não sei o que faria.
- Você é sincera demais - Joseph comentou, bagunçando os meus cabelos. Os fios negros se espalharam pela minha face e eu encarei seus olhos azuis, embora ele olhasse para algum ponto do horizonte. Eram estranhos: límpidos, claros e cristalinos, como uma lagoa. Mas eram quentes e passavam uma sensação de tranquilidade - Eu te ajudarei a resolver os seus problemas, você sabe.
- Masoquista. Eu queria te ajudar também - ambos rimos.
Antes de irmos para a minha casa, passamos na loja de conveniência para comprar o que precisávamos para fazer um jantar. Eu era uma grande desastrada em cozinhar e minhas habilidades só atingiam dois campos: desenho e leitura. Notas? Desastre. Esportes? Desastre. Tarefas domesticas? Desastre.
Literatura? Desastre.
Eu tinha dislexia e mesmo assim gostava de ler. Eu sei, isso é estranho. Esse habito foi passado a mim por uma amiga minha chamada Lea: ela era muito estranha. No colégio, ela era uma loba solitária igual a mim, quando nos tornamos amigar era muito estranho nós ver juntas. Também era um rato de biblioteca que amava contos mitológicos e historia onde meninas viravam mais que amigas.
Haviam vários livros desses na biblioteca, até ela roubar todos. Ela fez a sua própria biblioteca particular, então... coisas ruins aconteceram…
Já desenho... bem, eu já era boa nisso quando era pequena, mas desenhar virou verdadeiramente um habito quando eu estava sobre a guarda de uma mulher chamada Violet. Ela tinha bastante dinheiro e era bem rica, porém não tinha filhos. Foi a última pessoa que me foi a minha tutora antes de eu ficar na custodia da empresa de advocacia, mas ela queria ser minha mãe adotiva.
Em poucas palavras, a minha vida lá era um inferno. Haviam duas pessoas que eu gostava lá: Lucca, um empregado italiano que deveria ter uns dezessete na época e um menino.
Se eu desenhava, era culpa daquele garoto. Não me lembro do rosto ou do nome dele, mas por alguma razão não podíamos nós falar, então desenhávamos. Talvez ele tivesse mais ou menos minha idade nós dias de hoje. Alguns meses mais velho, talvez?
Coisas ruins aconteceram com aqueles dois também.
- Lillian? Está tudo bem? - Seph perguntou. Eu havia ficado um pouco aérea alguns momentos. Eu corei e peguei a sacola de supermercado.
- Sim. O que teremos para a janta hoje? - perguntei para o garoto. As vezes eu me perguntava onde Joseph morava: costumávamos nós encontrar no parque onde eu estava depois das aulas e ficávamos andando pela cidade ou íamos até o meu apartamento.
Havia uma espécie de acordo entre mim e Seph: exceto pela hora do almoço onde poderíamos fugir da sala, não conversávamos na classe. Pessoas poderiam entender aquilo de maneira errada: eu era a menina mais popular e odiada da sala e ele o garoto mais popular da escola. Normalmente, ele fazia varias meninas chorarem quando recusavam as suas declarações e eu... bem, os meninos haviam parado de me encher quando perceberam que eu não queria nada com ninguém mas eu ainda recebia bilhetinhos e era bastante odiada pelas meninas.
Uau, que novidade. Me odiavam. Pelo menos, nada mais grave havia acontecido... que Seph ficasse sabendo. De certa maneira, ele e Lea eram iguais: extremamente possessivos. Lea se virou contra varias pessoas para me proteger, igual a Seph...
Eu não conseguiria meter os dois em apuros por uma situação tão simples.
- Eu estava pensando em fazer bife a bife de frango parmegiana e macarrão ao alho e óleo - ele comentou, corando. Minha boca se encheu de água com a perspectiva de comer algum macarrão que não fosse yakisoba comprado no restaurante chinês ou noodles instantâneos.
- Ah, é mesmo! Sua mãe é da italiana, né, Seph? - perguntei e imediatamente percebi que não deveria ter tocado no assunto. Eu evitava falar sobre a minha família com outras pessoas, mas para ele... aquilo era um verdadeiro tabu.
- É o que me dizem - ele comentou, frio. Sua voz era como uma lagoa... clara, fria. Estranha.
Então paramos repentinamente e eu tampei a minha boca para não gritar. Outra pessoa fez isso por mim, uma menina que tinha uns doze anos.
A visão era terrível e, de certa forma, eu não conseguia parar de olhar para ela. Do outro lado da rua, o pequeno corpo estava incapaz de fechar os olhos. Ele olhava para o céu que começava a escurecer, buscando alguma estrela. A neve ficava vermelha e derretia com o contato com o seu sangue.
O menino estava morto, pedaços de vidro fincados no seu corpo e seus membros espalhados em posições estranhas. Ele havia sido atropelado por um caminhão.
Eu queria ir até a menina que chorava e consola-la, mas Seph tampou os meus olhos. Um coro inquieto ressoava nos meus ouvidos, dizendo que aquilo estava errado... não era a hora ainda. Aquilo não precisava de acontecer...
- Não olhe - ele me aconselhou. Eu queria agradecê-lo por ter feito aquilo, caso contrario, nunca desviaria os olhos do corpo. Mas eu queria ter uma última visão daquilo... - Vamos por outro caminho, ok?
O seu tom de voz tornava claro que o acidente não era a única coisa que o fazia sugerir aquilo.
Cozinhamos e comemos em silencio chegando em casa. Como poderíamos ter uma noite animada se havíamos visto o futuro ser pisoteado do outro lado da rua?
Não aguentando mais o clima tenso que havia se instalado na mesa, eu me levantei e fui até o banheiro. Trancando a porta atrás de mim, liguei a torneira e me encarei no espelho. Meu cabelo negro estava um pouco desgrenhado e a minha pele mais pálida que normal. Assim como Seph, eu também tinha olhos azuis, embora fossem mais escuros e tivessem pequenas manchas de cor mais clara. De qualquer forma, aqueles eram olhos amaldiçoados.
Quem olhasse para eles desaparecia. Havia sido assim com ele, com Lucca e com Lea. Quanto tempo demoraria para que Seph também deixasse de existir?
Por que... por que eu ainda não havia desaparecido? Por que eu tinha que aguentar toda a dor dos que ficaram?
Em um gesto instintivo, eu ergui a minha mão e quebrei o espelho. Os cacos feriram meu punho e alguma força me empurrou para trás. Eu bati a minha cabeça contra a porta e minha visão ficou escura.
Eu tinha uma leve sensação do que acontecia a minha volta... a porta se abriu, Seph gritou. Me senti sem peso, então senti o chão em baixo de mim. Quando abri os olhos, aqueles dois olhos azuis me encaravam com intensidade.
Gritei e tampei o meu rosto.
- Não olhe! - implorei, chorando. A minha mão ferida doía demais, mas eu não me importava com isso - Por favor, não olhe! Se você olhar, vai desaparecer também!
- Lilly... - Seph falava com a voz tranquila. Alguma coisa quente como um cobertor caiu sobre a minha cabeça e eu a agarrei, tentado cobrir o rosto. A sensação era ligeiramente familiar... o moletom de Seph? A musica encheu os meus ouvidos e eu senti aquela mão quente do lado do meu rosto. Ele tirou as minhas mãos de cima dos meus olhos e me encarou fixamente - Eu também vivo com medo de desaparecer, mas a vida não seria bem melhor com isso?
Eu o abracei e as lagrimas rolaram pelo meu rosto. Seph ainda estava do meu lado, me consolando, quando eu parei, mas ele não fez nenhuma tentativa de tentar me fazer parar de chorar.
Eu me afastei um pouco do seu ombro e corei, percebendo o que havia feito. Tentei me afastar e encostei com a minha mão direita no chão. Gritei. A dor foi forte e a recolhi contra o corpo, manchando meu uniforme com sangue.
- AH! Me desculpe! Só um instante, Lilly! - ele parecia surpreso, como se tivesse esquecido completamente do estado da minha mão. Se fosse possível, ele estava ainda mais vermelho que eu. Seph pegou sua mochila, foi até mim e fez um curativo improvisado.
- Não... está tudo bem. Você queria ser médico, Seph? - falei, observando o curativo. Era incrivelmente bem feito e parecia que o garoto mantinha itens de primeiros socorros consigo.
- Não, é apenas um truque útil que eu aprendi - ele disse, constrangido. Eu desviei o olhar pois não havia mais nada para fazer - Lillian, você é surpreendente. A cinco segundos atrás, você estava chorando e agora já voltou para a sua personalidade alegre.
- C-cale a boca! - falei, corando bastante. Eu ia usar a minha mão direita para tampar meu rosto, mas a dor me impediu de fazer qualquer coisa. Suspirei - Ei, Seph...
- Certo. Isso é tão bonitinho que me faz querer vomitar. Podem parar logo com isso e começarmos a falar do que importa? - uma voz feminina perguntou. Me virei rapidamente: havia alguém no vão da porta - Lillian Lee Belushi... eu estou aqui para tomar a minha alma de volta.
Aquela era... eu? Os mesmos cabelos negros, os mesmos olhos azuis... Porém ela tinha uma aparência psicopata no rosto. Com a mão direita, segurava um pedaço de vidro.
- Há quanto tempo - comentou Seph. A menina imediatamente o encarou e ficou pálida - Lilly… Fuja. Você sabe bem onde me encontrar. Fique o mais longe que puder.
- Você... Você!! - a outra eu gritou. Eu simplesmente queria me encolher - Sabe o que é ficar presa naquela droga de espelho por seis anos??
- Você não se lembra do Tártaro? - ele perguntou. Eu me perguntava como Seph queria que eu fugisse naquela situação, exceto que ele esperasse que eu pulasse a janela...
Se bem que estávamos no primeiro andar.
- Estou aqui apenas para tomar a minha alma de volta! - ela gritou. Gelo percorreu o meu corpo - Fique fora disso!
Antes que qualquer um de nós dois pudesse reagir, ela atravessou o cômodo em velocidade inacreditável. Seph me jogou para o lado, assim como jogou a outra Lillian. Eu senti que ele colocava algo em minha mão. Ela teve um pouco mais de sorte em aterrissar que eu.
- Saia do meu caminho!
- Lillian! Agora!
Eu corri, apertando o que quer que Seph havia me dado, e me joguei na janela. O vidro cedeu e quebrou enquanto eu despencava em rumo ao chão, mas os meus cortes foram superficiais. Uma árvore amorteceu a minha queda.
Suspirei. Parecia que estava tudo bem, exceto pelo barulho de metal contra metal que vinham do andar de cima. Olhei para o que Seph havia me dado: uma faca ou adaga. Era estranho não ter me cortado.
Desci da árvore da melhor maneira que eu consegui. Os sons haviam parado no andar de cima. Disparei pela recepção e pela escada, chegando no apartamento.
Eu tentei abrir a porta. Trancada.
- Vamos! Abra! - falei comigo mesmo, tentado abrir a porta, a adaga na outra mão. Finalmente desisti e dei um passo atrás, chutando a fechadura e a quebrando. Escancarei a porta.
Lá estava Seph, estranhamente imóvel: Lillian tinha as mãos na sua garganta. Ela sequer olhou para mim, tão entretida na tarefa de mata-lo que estava.
- Não toque nesse homem - falei, com a voz fria. Sem hesitação, eu havia atravessado a sala e fincado a adaga nas costas dela sem nenhum remorso - Pois ele me pertence.
A Lillian falsa de desfez em pó e eu cai de joelhos. Seph se levantou assim que o peso saiu de cima dele e me abraçou. Não precisava. Eu faria aquilo de qualquer maneira, buscando algo familiar.
- Desculpe-me, Lilly - ele murmurou no meu ouvido. Eu tremia das cabeças aos pés, sem saber o que aconteceria em seguia - Eu juro que te explicarei tudo mais tarde, mas agora concentre-se em ficar viva.
New York, New York
Eu me joguei na cama e fechei os olhos por um segundo, tentando me lembrar onde estava e que nome falso eu estava usando. Lillian Redmont. Ou era Lillian Castlemont?
Não fazia diferença. Eu teria que fugir de lá, logo. O dormitório feminino estava em completo silencio. Eu estava sozinha ali.
Eu tinha que começar a juntar as coisas que eu não havia roubado dali e preparar a minha mala, mas algo me impedia. Durante cinco meses, as coisas haviam corrido daquela maneira: encontrávamos uma casa que estava vazia ou um colégio e convencíamos as pessoas com a Névoa que ou sempre havíamos morado lá, ou estávamos nós mudando e éramos novos na região. Quando monstros atacavam, só lutávamos quando o necessário e tentávamos fugir o mais rapidamente.
A historia oficial é que Lillian Lee Belushi e Joseph Wright, filho da famosa empresaria Emilia Wright, haviam sido sequestrados no dia 13 de fevereiro em Amber enquanto iam para a casa da garota. O estratagema havia funcionado bem até agora: se precisássemos de dinheiro, ligávamos para a companhia de advocacia e eles transferiam quantos dólares precisássemos para o meu cartão, então sacávamos tudo no caixa eletrônico mais próximo e dávamos um jeito de sumir da face da terra até as investigações no local tivessem cessado.
Eu desconfiava de Seph: havia escutado o sobrenome dele apenas uma vez e tinha certeza que não era Wright. Ele estava escondendo coisas de mim, eu sabia disso, mas não fazia diferença: ele havia mentido para mim desde o dia que nós conhecemos até o dia que a Lillian espelhada havia surgido no meu apartamento.
Aparentemente, as coisas continuariam assim por mais um tempo. Eu me levantei da cama e me sentei na janela, observando o dormitório masculino do outro lado. Se eu ou Seph quiséssemos, poderíamos invadir o quarto um do outro a partir de uma grande árvore que havia entre os dois dormitórios: os quartos eram um na frente do outro. Ele estava tocando piano quando eu olhei e sorri: piano, além de esgrima e varias outras coisas, eram uma das habilidades dele que eu havia descoberto nos últimos meses.
Ele me viu e eu corei, desviando a face para o outro lado. Era tarde demais para fingir que eu estava olhando por acaso. Seph foi até a janela e pegou um bloco de desenho. Quando eu li o que estava escrito, eu quase soquei o seu rosto.
Você está bem?
Bem quanto possível, respondi, usando uma folha que estava perto de mim e caneta vermelha. Eu o observei enquanto virava a folha do bloco e escrevia alguma outra coisa. Tamborilei os meus dedos pela janela.
Você consegue desenhar?, estava escrito no papel. Eu quase dei um sorriso tímido. Ao lado da caligrafia em azul, havia um desenho, talvez representando o próprio Seph. Usando o verso do papel, eu respondi.
Um pouco, estava escrito, com uma menina desenhada me representando. Ai eu verdadeiramente sorri. Guardanapos, menus, folhas de caderno... sempre que eu podia, eu desenhava tentando buscar um pouco de normalidade. Eu me sentia bem, podendo desenhar com tempo, e como Seph fazia aquilo era nostálgico. Acrescentei mais algumas palavras na folha: espere ai.
Voltei alguns segundos mais tarde com um bloco de desenhos igual ao de Seph. Ficamos a tarde inteira naquilo, até que o sol se posse e não houvesse muita luz para nos enxergarmos. O menino iria desenhar uma última coisa, mas desistiu e guardou o bilhete dentro do bolso.
Precisamos conversar, espere um pouco, ele escreveu no lugar e abriu a janela de seu quarto, saltando para a árvore e depois para o meu quarto.
- Vamos ter que nós mudar de novo - ele falou, sem rodeios, se ajeitando na minha cama.
- O que? - falei, chocada. Nunca havíamos ficado tão pouco tempo em um lugar só: o atual campeão era Vegas, de onde havíamos fugido em dois dias. O tempo recorde era San Francisco: pelo visto, Seph tinha conhecidos por lá, embora eu não tivesse encontrado nenhum - Estamos aqui há umas doze horas!
- Já nós acharam... - ele falou, suspirando. O gelo percorreu a minha espinha e eu sabia que era bom eu arrumar as malas.
- Monstros? - perguntei, por mera força de habito. Humanoides, bestas: quase todos queriam nós matar.
- Não - ele respondeu, negando com a cabeça - Uma coisa um pouco pior... são pessoas como nós.
- Como assim...
- Eles ouviram rumores que dois como eles estão por aqui - Seph explicou pacientemente - Normalmente, deixariam que essas pessoas fossem até eles, mas na situação atual... bem, eles querem saber se terão novos recrutas ou dois inimigos para matar.
- E?
- Você não os conhece como eu conheço. Lilly, eu não vou te deixar morrer, mas também não posso te entregar para eles - havia algo diferente na voz de Seph. Misturado com a sua determinação havia... desprezo?
- Antes de irmos... - eu murmurei. Quando percebi que estava falando o que vinha a mente, me calei - Não, esqueça. Vou tomar um banho e arrumar as minhas coisas. Te encontro daqui a pouco.
(...)
Cinco minutos depois de sairmos do prédio, já havíamos enganado todos os seguranças e estávamos esperando um taxi quando começamos a ouvir lobos. Instintivamente, toquei a adaga que eu mantinha escondida nas vestes. Seph também estava nervoso.
Depois desse silencio que durou por tempo indeterminado, o taxi chegou. Não houve brigas, não houve discussões. Normalmente dávamos para o motorista um rolo de notas e pedíamos para ele rodar para fora da cidade o quanto aquilo durasse enquanto discutíamos o que faríamos a seguir. Nesse caso, eu estava absolutamente perdida.
- Farm Road, 3.141. Pode cobrar o dobro se for depressa - Seph pediu, com poucas palavras.
- Protetor?
- Estou mais para um refugiado - ele explicou. "Refugiado", o garoto me dissera, era um termo comum para pessoas como nós: que estavam constantemente mudando de lugar e que atraiam monstros. Quanto a protetor... eu não fazia ideia.
Mas o motorista pareceu entender e disparou pela estrada escura. Em quinze minutos, o carro parou e descemos. Seph jogou um grande rolo de notas no banco de trás, provavelmente tudo que tínhamos no momento.
Havia uma floresta lá perto. Começamos a correr para lá.
- O que você está fazendo, alien pervertido? - exigi, o seguindo de perto. Registrei o fato de como ele parecia estranho naquele momento: distante... surreal.
Frio.
- Eu já te disse. Tentado te manter viva.
- E você, Seph? - perguntei. Eu confesso: era uma criança chorona - O que você acha que eu vou fazer se eu morrer? Eu já te disse, sou uma idiota. Não vou aguentar nem cinco minutos sem você! E eu estou chorando agora, droga!
- Lillian! - ele pareciam um pouco... impressionado. Paramos e eu enxuguei as lagrimas do meu rosto, o encarando fixamente. Aqueles "olhos"... "Eu tenho medo de desaparecer também", o que ele queria dizer com aquilo? - Eu não vou morrer!
- Promete? - perguntei, soando como uma criança. Eu estava prestes a chorar de novo.
-Francamente, Lilly. Você acha que eu faria algo assim? Sempre que você quiser, eu estarei do seu lado. Eu te... - seus olhos ficaram opacos e uma pequena lagrima deslizou pelo seu rosto.
Era a primeira vez que eu o via chorar. Então Seph olhou para um ponto atrás de mim e arregalou os olhos enquanto caia. O sangue empapava o lado direito do seu corpo.
Eu gritei.
- Um traidor a menos - constatou a pessoa que o havia atacado. Eu não saberia dizer exatamente se era um garoto ou uma garota: esguio, porém alto demais. Sua voz me enganava, seu rosto me enganava. E eu estava simplesmente chocada. Saquei minha faca - Ei, você vai seguir os passos desse covarde?
- Ele não...
- Sim, ele sim. Fugiu de todos nós. Tudo por que ele era covarde demais para lidar com algumas mortes e tinha medo que a sua preciosa boneca de trapos morresse... você vai seguir os passos dele? Ou vai se mostrar uma nova recruta? - ela falou [e assim me referirei]. Mas o inicio foi o que me chocou. Não... estava errado. Eu era uma idiota, uma covarde chorona, mas Seph não havia desistido de mim. Ele não faria aquilo.
De certa forma, eu vi que a morte não era tão repugnante assim.
- Que mente pequena... - Seph falou com uma risada sem emoção. Eu me virei rapidamente e o vi pressionando o machucado - Não pense que eu vou morrer só com isso. Lilly!
- Sim? -perguntei, mesmo sabendo o que ele diria.
- Se você continuar descendo a partir daqui... encontrará um riacho. Siga o curso dele e vai chegar em um lago. Você vai estar a salvo lá. Não se importe comigo, apenas vá! - ele pediu, mas fraquejou. Eu me impedi de estraçalhar a maldita travesti.
- Já acabaram? - a garota com a adaga perguntou. Ela parecia estranhamente camuflada em meio a escuridão.
- Quem disse que você tinha escolha? - Seph me empurrou para o lado e sacou as suas armas, duas adagas, e avançou. Eu comecei a correr na direção oposta, chorando.
Não morra... seu idiota...
Eu apenas corri, corri e corri. Meu desejo era de voltar... ajudar aquele grande imbecil. Havia tanta coisa que eu queria dizer quando estivéssemos sozinhos, eu simplesmente não encontrava palavras.
Eu tinha medo de colocar aquilo no papel, com medo do que eu poderia criar. Eu tinha medo que a chuva viesse e trouxesse o fim daqueles dias de inocência.
Ele não se importava. Seph havia encarado a chuva e cuspido nela. As lagrimas se misturavam com o meu suor. Cair e morrer parecia uma boa opção.
Então eu percebi... que aquilo estava errado. Parei bruscamente e virei para o outro lado no instante que eu vi o riacho. Pulando sobre um tronco caído no meio do caminho, eu sabia exatamente o que tinha que fazer.
Eu iria salvar aquele idiota.
O metal se chocando contra metal foi o primeiro som que escutei quando me aproximei de onde Seph e a garota duelavam. Algo estava estranho: enquanto eu observava das sombras, percebi que Seph fazia movimentos desnecessários demais, as vezes atacando onde sequer era preciso.
Ilusões, mas aquela era uma ilusionista fraca: para criar tantas ilusões convincentes, ela estava se esforçando ao máximo. Eu peguei uma pedra que estava perto de mim e joguei nela, gritando. Ela olhou para mim, desviando os olhos de Seph e este a matou sem pensar duas vezes.
A ilusionista desapareceu em uma explosão de pó e o garoto cedeu. Eu corri até lá e o segurei da melhor maneira possível antes que ele caísse no chão. Eu cai também.
Tudo iria acabar daquela maneira por causa de um copiador?
- É minha culpa, não é? - eu perguntei, lagrimas despencavam do meus olhos. Era óbvio que Seph estava muito ferido: as suas roupas estavam ensopadas de sangue e ele tremia, frio.
- Não, foi a minha escolha - ele disse, com um pequeno sorriso. O menino afastou os cabelos da minha face - Era melhor isso que fazer nada. É tarde demais para eu me redimir de meus erros, também.
- Mesmo eu sendo falsa?
- Você não é falsa, Lilly... - Seph começou a fechar lentamente os olhos. Eu aproximei lentamente a minha face da dele - Você é e sempre foi... a Lilly. A raiva, a simpatia, a tristeza, a determinação, o desanimo e também o sorriso... eles eram só seus.
- Não me deixe sozinha - pedi, meu rosto molhado. Encostei a minha testa na dele. Os olhos de Seph estavam vermelhos, a sua respiração estava estranha. Os lábios dele estavam rachados...
- Nós vamos nos encontrar de novo - ele disse. Provavelmente, eu me machucaria muito se fizesse aquilo... - Talvez você não saiba quem sou eu e eu não saiba quem é você, mas prometo que nós encontraremos novamente.
- Sim... ai não haverão mentiras e então conversaremos sobre tudo! - eu falei, tentando soar animada com aquilo. Nossos rostos se encontraram. Ele colocou algo na minha mão e eu a acariciei com carinho: era um colar de cristal e havia alguma coisa dentro.
E aquele gesto doeu muito dentro de mim, mas era surpreendentemente quente o contato com o rosto do menino.
- É quente, como se eu estivesse segurando a sua mão...
- Não diga coisas estranhas - ele me censurou - Obrigada, Lillian. Desculpe... eu estou indo na frente.
E ambos fechamos nossos olhos, Seph pela última vez.
Ah... eu vou... desa-desaparecer...
Eu... eu até... pensei em um bom nome... para mim...
Eu não tenho nada mais...
Sua idiota! O que você quis dizer com "não ter nada"?
Qu-em?
Eu sou um semideus refugiado. Meu nome... não, meu nome não passa de uma marca.
M-as... eu sou...
Se esse é o caso, sua tábua, você ignorou tudo que eu disse. Quem era... que vivia arrumando confusões todos os dias? Você se lembra, não é? Da nossa dor... e da nossa alegria. Elas eram nossas.
El-as eram... minhas?
Então, grite!
Gri-te?
Eu vou lutar com você. Afinal você é a minha... mal-humorada, charmosa e complicada... parceira.
A minha boca se mexeu, mas o som não saiu. A palavra que eu iria falar parecia distante e desconexa. Tentei descobrir que lado era para cima e julguei que era a direção oposta ao frio chão onde eu estava.
Não era trevas nem luz. Simplesmente era o espaço interminavelmente vazio. De certa forma, consegui me levantar da primeira vez que tentei e comecei a andar, logo chegando a uma parede alta e interminável.
Ela era toda feita de vidro. Atrás do muro, eu conseguia ver alguém: era um garoto, embora eu não pudesse ver o seu rosto claramente.
Sem pensar muito bem, eu corri até lá e falei algumas palavras. Ele não deu sinal de entender, então comecei a bater no vidro. Alguma hora, me cansei e desabei de joelho.
Nisso, ele tirou algo do bolso: uma caneta. Em poucos segundos, estava escrito na parede em uma caligrafia e letras que eu já conhecia muito bem...
Você consegue desenhar?
Eu gritei seu nome e a parede se quebrou. Alcança-lo... eu poderia alcança-lo... ! Eu não me importei enquanto era machucada pelo vidro, tentando chegar do outro lado.
Ele não estava lá. Ele não estava mais lá. Quando percebi aquele fato, a rachadura que existia dentro de mim se alargou e eu quebrei.
- Parece que ela está viva -uma voz feminina disse para alguém. Era incomodo inclusive abrir os olhos, então não fiz nenhuma tentativa deste - Ei, você. Está bem? Meu nome é Meredith. Memorizou?
- Onde... eu estou? -perguntei, a voz falhando. Minha garganta estava seca, como se eu não tomasse água a dias.
- Acampamento Meio-Sangue -disse outra voz, masculina - Um lugar seguro.
- Entendo... ele disse a mesma coisa... -e voltei para o meu mundo de sonhos.
A minha vida já havia mudado. Naquele momento, o mundo parou de se mover.
Eu gritei seu nome e a parede se quebrou. Alcança-lo... eu poderia alcança-lo... ! Eu não me importei enquanto era machucada pelo vidro, tentando chegar do outro lado.
Ele não estava lá. Ele não estava mais lá. Quando percebi aquele fato, a rachadura que existia dentro de mim se alargou e eu quebrei.
- Parece que ela está viva -uma voz feminina disse para alguém. Era incomodo inclusive abrir os olhos, então não fiz nenhuma tentativa deste - Ei, você. Está bem? Meu nome é Meredith. Memorizou?
- Onde... eu estou? -perguntei, a voz falhando. Minha garganta estava seca, como se eu não tomasse água a dias.
- Acampamento Meio-Sangue -disse outra voz, masculina - Um lugar seguro.
- Entendo... ele disse a mesma coisa... -e voltei para o meu mundo de sonhos.
A minha vida já havia mudado. Naquele momento, o mundo parou de se mover.
Questionário:
I) Qual desses adjetivos te descreve melhor?
e) Reservado.
II) Se um dos seus amigos sumisse, o que você faria?
d) Sentaria para pensar – sem agir precipitadamente – tomando assim melhor decisão pensada.
III) Nas horas vagas, você gosta de:
g) Pensar na vida.
IV) Sobre a sua família:
e) Sempre estamos juntos, mesmo nas viagens ou nas encrencas.
V) Qual estilo de luta se aproxima mais do seu:
c) Começo a atacar de longe, atirando coisas.
VI) Você está passando pelo bosque quando vê um cara tentando pôr fogo nas árvores. O que você faz?
f) Xingo o imbecil que está cometendo esse crime.
VII) Como seria seu par perfeito, mais ou menos?
g) Pode se adaptar a qualquer situação inconveniente.
VIII) O que mais gosta (ou gostaria) de fazer nas férias?
f) Conhecer outros lugares e pessoas.
IX) Se você pudesse escolher seu(sua) pai/mãe divino(a), quem seria?
Hades
Lillian Lee Belushi- Mensagens : 1
Ficha de Personagem
Filiação/Grupo:
Nível: 1
Inventário:
Re: Lillian Lee Belushi
Lilian sua ficha foi aceita, com tudo Hades ou Zeus lê passara um teste, caso esse seja bem sucedido saberá se seu pai é um dos três deuses grandes. Bem vinda e Boa sorte...
Héstia- Mensagens : 20
Ficha de Personagem
Filiação/Grupo:
Nível: 1
Inventário:
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos