Teste de Nerisa Bousier *-*
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Teste de Nerisa Bousier *-*
Sexo: Feminino
Idade: 11 anos
Destreza: Direito
Características:
Positivas: Agilidade, Aparência Inofensiva, Arte
Negativas código de honra, coração mole, curiosa
Qual seu/sua pai/mãe divino/a?
Poseidon
Quais as características físicas e de personalidade que lhe ligam a esta divindade?
Psicológicas: Sou a garota mais carinhosa que você poderá conhecer. Sou capaz de tudo para proteger alguém que amo, todos dizem que sou extremamente protetora. Não sou bem estudiosa (mas esforçada), o que me torna inteligente, esperta e criativa; adoro desafios e não sou muito fã das regras, o que me torna aventureira. Sou muito verdadeira, falo na cara mesmo, e detesto falsidade. Fui educada, mas a minha educação vai depender da sua, então se liga. Odeio magoar as pessoas a minha volta, e me apego facilmente às pessoas, o que não é uma qualidade a meu ver. Persistente, determinada, ousada e feliz pra caramba. Sou muito na minha, sossegada e tranquila, às vezes acham que eu não vejo, mas eu sei de tudo que acontece a minha volta. Sou chorona e sensível, mas não demonstro isso com frequência. Sou extremamente impulsiva, inconsequente e irresponsável, não diria bipolar, meu humor varia de acordo com as situações do dia-a-dia, se acontecer algo que me deixe muito nervosa, vou virar a cara e emburrar o resto do dia. Possessiva ao extremo, tornando-me até um pouco paranoica quando estou com ciúmes (o que é meu, é meu!).
Físicas: Os meus olhos possuem naturalmente uma coloração verde cristalinos. Os olhos têm uma simbologia antiga ligada á expressão de serem "o espelho da Alma da pessoa", tendo que cada um simbolize a Lua ou o Sol. Sendo assim, quando eles se tornam escuros, é como as fases da Lua e quando tomam o seu tom natural, são como a claridade do Sol. O meu cabelo é uma mistura, loiro-castanho, e com um comprimento longo, pois para mim, cortar o cabelo é simbolo de sacrifício. Normalmente, costumo usá-lo solto, com algum pequeno enfeite prendendo os cabelos que tapam o rosto. Tenho 48 quilogramas bem distribuídos, com 1 metro e 70 de altura.
Por que você acha que de fato este/a deus/a é seu/sua pai/mãe divino/a?
Porque sou como as ondas, sou calma, mas se mexer consigo te derrubar. Além disso eu admiro Poseidon, acho ele justo e carinhoso. É o único que me orgulharia se o tivesse como pai.
História:
Ela nasceu em meio a um inverno rigoroso de Williansport, Pennsylvania - EUA. Nevava, era uma madrugada escura e foram horas e horas de um parto cansativo e no qual Amelie desejava (e fazia de tudo o que podia) que tudo ocorresse bem e que a criança nascesse com vida e saudável. O parto foi feito dentro de um quartinho pequeno, com apenas uma vela acesa e uma parteira que gritava para que a mulher fizesse cada vez mais força. Loye estava ao lado da mulher, dando todo o apoio necessário e sempre a auxiliando com frases positivas. E em meio a gritos e dores, o bebê finalmente saiu do conforto do ventre. E é aqui que a história começa.
ㅤㅤNerisa cesceu entre Loye e Amelie. Desde pequena sabia que não era filha do homem ruivo, mas era tratada como uma filha como se fosse fruto do casamento de ambos. Não cresceu em um berço de ouro de uma família nobre - na verdade, isso seria tão clichê quanto dizer que “o bem sempre vence”. A família era numerosa - entre vários tios, tias e avós e primos e primas, e mesmo assim, Nerisa sempre sentia que ali não era seu lugar. Entre seus irmãos, era a mais peculiar: eles tinham os cabelos ruivos, como Loye. E os olhos eram de um tom ocre, intensos, ou verdes, como Amelie ou Loye - e eles tinham também as expressões brutas de Loye. Eram as misturas sempre perfeitas da família Bousier e Conteville. Ela, no entanto… Tinha os cabelos loiros como o sol - como sua mãe, e de feições delicadas. E os olhos… Azuis e intensos, atentos e sempre brilhantes. Amelie costumava lhe dizer que seus olhos transmitiam algo de seu pai - embora Nerisa sempre fosse quieta e até mesmo um pouco fria.
ㅤㅤCom o nascimento dos irmãos, Nerisa começou a ser tratada de maneira diferente. Não era mais como uma filha, mas como uma hóspede indesejada em casa. As brigas começavam em casa, geralmente com Loye bêbado. Mesmo sendo a mais velha, Nerisa era a menor dentre os nascidos.
somehow the pain inside your eyes is just the beginning...
Enquanto os irmãos estudavam em escolas particulares, a Nerisa cabia apenas o ensino público. A menina não participava de nenhum grupo além da Liga de Baseball, um time oficial da cidade - e era o único lugar em que Nerisa realmente se sentia bem. Tinha dezesseis anos e já havia sido expulsa de oito escolas, uma vez que situações complicadas surgiam quando ela menos esperava - havia ainda o fato de que ela, não necessariamente, sempre parecia estar no lugar errado, na hora errada. Ou que era um imã para problemas.
ㅤㅤO diagnóstico da dislexia e do déficit de atenção veio aos treze anos, após uma série de conversas com o orientador escolar, diálogos entre Amelie e Loye, e, também, muitas consultas a médicos. Precisou frequentar um psicólogo, uma vez que o orientador (O Sr. Marshall, um velinho curioso e gentil com a menina) dizia que a menina era isolada demais dos seus amigos. E, o que antes era facilmente insuportável já começava a se tornar um incômodo sem fim e Nerisa não sabia mais até quando iria aguentar toda aquela situação. E tudo se agravou quando, depois de algumas conversas escutadas atrás de portas, percebia que Loye estava começando a convencer Amelie de que Nerisa era um ser que não merecia tanto carinho, atenção e, quem dirá, viver sobre o mesmo teto que eles.
ㅤㅤFoi em uma surpreendente tarde de terça-feira em que sua vida começava a mudar, aos poucos. Sua mãe havia saído para uma reunião na escola dos irmãos, e Nerisa havia ficado, aparentemente, sozinha em casa. Chegou da escola mais cedo que o normal - uma vez que havia ganhado mais uma suspensão. Seus dias, aparentemente, estavam contados em mais uma das escolas. A loira largou a bolsa no chão e foi seguindo até a cozinha, faminta. Esticava o braço e ficava nas pontas dos pés para alcançar a caixa de cereal quando firmes mãos a seguraram pela cintura. Nerisa reprimiu um grito pelo susto e, ao virar-se, percebeu que seu rosto estava centímetros de distância ao do padrasto. O forte cheiro da bebida impregnava o ambiente e era impossível dizer que aquela era uma situação confortável. Os pedidos para que fosse solta foram se transformando em fortes tentativas de empurrões, até que ela finalmente conseguisse se desvencilhar. Houve o grito do homem, começando a perseguir a menina e, derrubando-a no chão, arrastou a loira para o porão da casa.
ㅤㅤAs mãos dele percorriam seu corpo com voluptuosidade, e por entre os gritos para que o homem parasse, Nerisa sentia ele começar a deslizar suas vestes para fora de seu corpo. As lágrimas fugiam dos orbes safira e os soluços começavam a escapar de si sem que a menina ao menos pudesse se controlar. O corpo de Loye movimentava-se sobre o seu, e a menina estava não apenas presa, mas visivelmente, sofrendo com tudo aquilo. A dor da humilhação era a pior. Seu corpo se debateu até o fim, implorando para que o padrasto parasse, para que ele a deixasse em paz. E, no fim, tudo foi em vão. Quando Loye levantou-se, com um sorriso de escárnio em sua face, a menina estremeceu e arranhou-lhe o rosto, revoltada. O homem ficou não apenas inconformado com aquilo, mas nervoso o suficiente para pegar a primeira coisa que tinha em alcance de suas mãos e golpeando a menina. Uma vez no estômago, duas nas costas. Os braços estavam arranhados, e pelo seu corpo inteiro encontravam-se hematomas. Ele havia não apenas tirado sua inocência, sua pureza. Havia feito com que a menina jurasse em nunca mais colocar os pés naquela casa.
“do you want to be different?”
Após o episódio do estupro, a menina sentia-se não apenas mais deslocada, como também, solitária. Suas notas - que já eram baixas - haviam caído mais ainda. Nunca foi de ter muitos amigos. No geral, as pessoas se afastavam por diversos motivos: fosse o mal humor que muitas vezes ela tinha, fosse a expressão mórbida ou até mesmo o fato de ser disléxica - e a lista apenas começava por aí. Com exceção de Lewis, um homem que trabalhava como zelador da escola onde a menina estudava. Era baixo, com uma expressão sábia e frequentemente era visto mancando. Tinha por volta dos quarenta anos e, dificilmente era pego de surpresa - sempre tinha uma resposta pronta na ponta da língua. Ele era um homem engraçado, divertido, e que muitas vezes fazia com que a menina pensasse antes de fugir, mas, daquela vez, não haveria Lewis ou qualquer outra pessoa que a impedisse. Sendo ele mais velho - e era a única pessoa em que a menina confiava -, por isso havia ligado para o amigo do celular da mãe, e contara que iria embora. E agora estava ali, no meio da madrugada, com uma velha mochila surrada, em frente a um casebre mal cuidado. Não sabia o porquê de ele ter sido tão ríspido, mas não poderia ir embora sem falar com o amigo. Sabia que ele vivia ali, mas em dois anos de convivência, nunca havia entrado naquilo que Lewis chamava de “residência”. Os dedos fecharam-se e ela bateu na porta uma, duas, três vezes. Chamou algumas vezes e, aparentemente, o fato de que Lewis ter ouvido sua voz foi o suficiente para que ele a abrisse. Usava um gorro sobre os cabelos loiros e curtos, e também estava usando uma estranha camisa alaranjada. Ia falar que ela estava ao contrário, mas ele a cortou com perguntas demais.
ㅤㅤㅤ─── O que você pensa que está fazendo aqui às duas da manhã, Nerisa? Eu te falei na droga do celular que não era para você vir, Nerisa! Pelo raio de Zeus, será que você nunca vai me escutar, garota?
ㅤㅤㅤ─── Eu vou embora. Eu tenho algumas economias e… Isso é cheiro de quê, Lewis?
ㅤㅤㅤ─── De nada! Olha: eu sei que está complicado, mas aguenta só mais um pouco, você conesgue. - Ele parecia implorar. Nerisa negou com a cabeça, escondendo as mãos dentro dos bolsos do casaco e dando um passo para trás.
ㅤㅤㅤ─── Isso aqui não é para mim, Lew. Eu trabalho até de garçonete, se for necessário, mas aqui, eu não fico. Minha mãe mal me olha, Loye tentou novamente tocar em mim. Meus irmãos e aquelas barangas que eu tenho que chamar de irmãs vivem para implicar comigo pelo fato de eu ser disléxica, e a minha única real amizade é você e… Lewis, pelo amor de Deus. Eu não vou aguentar mais isso. Eu preciso ir embora. Para qualquer lugar, onde quer que seja. Tenho dinheiro o suficiente para poder ir até, sei lá, Nova York. Isso contando, claro, que eu possa pegar uma carona com alguém... De preferência alguém que não vá querer me matar.
ㅤㅤㅤ─── Neri, e…
ㅤㅤㅤ─── Não, “Neri”, nada! Eu não vou ficar! Eu não deveria ter vindo, mas a situação agora está... ─── Interrompeu-se, franzindo o cenho. ─── Que barulho foi esse?
ㅤㅤㅤ─── Não se vire para trás, apenas corra. - avisou ele, ficando extremamente pálido e começando a puxar a garota para dentro de casa.
ㅤㅤO primeiro erro de uma pessoa quando ela diz “não faça tal coisa” em um momento crucial, é que o outro sempre irá fazer. É um reflexo humano, e com Nerisa Bousier não foi nada diferente. Os olhos intensos cor de safira se arregalaram em surpresa quando percebeu, com o coração quase fugindo por entre os róseos lábios, que haviam duas grandes caudas nos lugares de pernas, e que o corpo era metade serpente e metade mulher. A pele, mesmo sobre a luz do luar, era esverdeada. A última coisa que Nerisa conseguiu ouvir foi um silvo alto, e depois, Lewis começava a puxá-la para dentro do casebre. Nerisa percebeu várias latas de refrigerante mastigadas, e quando ia começar a perguntar o que estava havendo, Lewis apenas abriu a porta dos fundos, sem quaisquer explicações. Começavam a cruzar o enorme terreno, e quando ouviram um estrondo alto, perceberam que o monstro estava brandindo uma lança, destruindo o lugar.
ㅤㅤㅤ─── Como eu ODEIO monstros! - Ouviu o mais velho gritar ao seu lado, correndo junto a ela. Ofegante, Nerisa diminuiu um pouco o passo, alarmada.
ㅤㅤㅤ─── Certo, acho que é hora de você me explicar o quê está acontecendo, e caramba, como você tá correndo assim?!
ㅤㅤㅤ─── Escuta. Não é hora para explicação, e muito menos para você dar uma de rebelde sem causa e se recusar a correr. Não está vendo a minha casa sendo destruída? Então, você não vai querer aquela lança atingindo o seu corpo, então sugiro que você comece a correr, não olhe para trás e não pare, por nada nesse mundo. Estamos entendidos?
ㅤㅤEla não queria acreditar, mas em uma situação como aquela, que outra opção tinha? Apenas acelerou o passo, sequer o respondendo, e começando a correr de maneira rápida. Queria se salvar, uma vez que tinha a sensação que, se não o fizesse, acabaria servindo de refeição noturna para aquela coisa que a seguia. Lewis gritou qualquer coisa e Nerisa, teimosa como era, virou-se para trás. A criatura estava próxima demais, e a loira já estava cansada de tanto correr. As caudas agitavam-se, nervosas, e uma delas atingiu Lewis, que foi brutalmente lançado para longe.
ㅤㅤO medo já começava a tomar conta da situação quando as garras do monstro por pouco não a feriram brutalmente. O corpo caiu sobre o chão, e a garota apenas teve tempo de rolar para o lado, desesperada, e arrastar-se, procurando fugir de uma vez. Lewis parecia estar começando a voltar a si quando Nerisa sentiu as garras afiadas arranharem a perna. A calça que usava foi rasgada, e o sangue que começava a jorrar eram apenas parte da dor que ela sentia. Nerisa virou-se de último segundo e, repentinamente, o monstro hesitou. Assustada, a menina apenas teve tempo de aproveitar o segundo breve de hesitação para sair correndo em disparada para onde Lewis estava. Ele a encontrou no meio do caminho e a observou, assombrado.
ㅤㅤA loira não sabia, mas seus olhos tipicamente azulados haviam se transformado em uma cor púrpura intensa e que, de alguma forma, havia feito com que a lâmia parasse de atacar por poucos segundos. Não teve tempo para ouvir qualquer uma das palavras de Lewis, que tagarelava desesperado sobre como empunhar uma espada: simplesmente segurou de maneira firme o objeto e, quando o monstro se aproximou, desviou.
ㅤㅤA lança da besta foi em sua direção, mas Lewis começou a correr em direção a criatura, tentando chamar sua atenção e, antes que ela pudesse avisar para que o homem tomasse cuidado, o mesmo foi atingido pelas garras da criatura. Ela sentiu o impacto da cauda contra seu corpo e foi arremessada para longe, metros e metros de distância. Agachou o corpo e quando a cauda novamente bateu a centímetros de si no chão, acabou sendo erguida no ar. Tinha ferimentos pelo rosto e alguns no braço, e finalmente conseguiu manter-se de pé. A cauda veio em sua direção e a menina pulou com dificuldade, cortando o ar com a espada que carregava e que havia sido dada por Lewis. Não era tão pesada, mas era diferente do que qualquer outra coisa. Seu corpo ficou mais dolorido ainda por conta do impacto contra o chão, e quando as garras novamente tentaram a atingir, a menina abaixou-se a tempo, conseguindo assim levantar-se novamente e cortar o ar horizontalmente; a lâmina acertou o braço da lâmia, que finalmente recuou por poucos segundos e Nerisa aproveitou-se da situação para poder golpeá-la próxima na cauda direita. Afastou novamente o corpo e antes que a criatura tivesse realmente tempo de reagir, a menina golpeou com força uma das caudas. Olhou para o pedaço - mesmo que pequeno - que havia cortado fora e o momento em que abaixou a guarda foi o suficiente para que seu corpo novamente fosse lançado para longe. A dor passou por seu corpo inteiro e a menina avistou o monstro aproximar-se com mais velocidade, nervosa - talvez pelo pedaço do corpo que havia perdido - e quando a lâmia estava próxima, a garota rolou para o lado, novamente. Empunhou a espada, levantando-se. Primeiro usou o próprio corpo para investir contra a criatura, que mesmo que não recuara, estava próxima o suficiente. Nerisa cortou o ar várias vezes até que percebesse que a cauda estava com vários cortes, e o tilintar da espada contra a lança, uma contra a outra, era o suficiente para que fosse aterrorizante por si só.
ㅤㅤTomou impulso com seus pés e saltou, girando o corpo com dificuldade, mas conseguindo aplicar força o suficiente em um golpe que atingiu uma das mãos do monstro - sua cintura, porém, recebeu um profundo corte que foi o motivo pelo grito de dor que ecoara na noite. Ela voltou para trás e quando a criatura avançou novamente, foi o suficiente para que a menina deixasse a espada bem empunhada. Assim que a lâmia contra atacou com desejo na direção da menina, inclinando o corpo para frente, pronta para lhe agarrar e, talvez a devorar, Nerisa esperou que se aproximasse o suficiente até fincar a lâmina no pescoço do monstro. Uma nuvem de fumaça explodiu no ar, e a loira fechou os olhos, esperando para o pior.
ㅤㅤMas o pior não veio. O corpo caiu contra o chão e, a última coisa que a garota se lembrava, eram das dores que percorriam todos os membros do corpo.
it's all a game, avoiding failure...
Os olhos abriram-se com dificuldade. Ela não sabia como realmente havia chegado até ali, mas apenas sabia que o local era claro, confortável, e todo o seu corpo parecia clamar por mais algumas horas de descanso. Tinha vários curativos sobre seus braços, pernas, a cintura estava enfaixada e alguns band-aids sobre suas bochechas e testa. A dor de cabeça que a atingiu fez com que um gemido de dor escapasse e ela ofegou baixinho, tentando se movimentar. Alguém se aproximou, levou a mão até sua testa e resmungou algo. Com dificuldade, a garota abriu os olhos, piscando algumas vezes.
ㅤㅤㅤ─── Onde diabos eu estou? ─── questionou, novamente fechando os olhos e tentando sentar-se. Imediatamente mãos firmes fizeram com que ela novamente se deitasse e a loira apoiou a cabeça no travesseiro. Ouviu algumas vozes e esforçou-se para não resmungar diante tanto barulho.
ㅤㅤㅤ─── Oi, Neri! ─── uma voz familiar fez com que seu coração se enchesse de uma profunda esperança e, ao abrir os olhos, fitou Lewis… Mas, estranhamente, estava diferente. A primeira coisa que percebeu é que estava sem o gorro e que possuía dois chifres por entre os loiros fios. A segunda coisa que percebeu é que ele estava mais alto e... Sem calça. Nerisa afastou os olhos, perturbada, mas não muitos segundos depois voltou a observar o amigo. ─── Como se sente?
ㅤㅤㅤ─── Como se uma manada de elefantes tivesse passado por cima de mim. - Parou, estreitando os olhos. ─── Tive um sonho maluco e agora penso que devo estar tendo visões, porque estou vendo chifres na sua cabeça e… Suas pernas estão transformadas em patas de bode.
ㅤㅤㅤ─── Aquilo não foi um sonho. E eu sou um sátiro.
ㅤㅤㅤ─── Perdão? O que quer dizer com “não foi um sonho”? Olha, eu devo ter batido a cabeça e você é algum fruto da minha imagina- AI! ISSO DOEU! ─── Reclamou, ao ter o braço beliscado de maneira forte, e fechou a expressão, irritada. ─── Certo. Você não é uma ilusão. Mas onde eu estou, e como eu cheguei aqui, Lewis?! Se é que esse é seu nome.
ㅤㅤㅤ─── Depois do ataque, eu comecei a te carregar para a cabana. Você estava desacordada, e eu precisei entrar em contato com o Acampamento. Eles me falaram que você deveria logo ser levada daqui, e, bom, eu não costumo contrariar muito as ordens deles, porque sei que é importante. De qualquer forma, eu te carreguei até a minha cabana (ou o que restava dela). Em alguns momentos você acordava, mas não ficava muito tempo consciente. Consegui um táxi, peguei algumas das suas economias e… Seguimos de cidade em cidade, até chegarmos aqui. Não foi uma viagem muito demorada, e me desculpa se gastei uma boa parte do seu dinheiro, mas… Foi por um bem maior. Agora estamos aqui, no Acampamento Meio-Sangue.
ㅤㅤNerisa ouvia tudo atenta demais, imóvel e respirando com uma certa dificuldade. Seus olhos azuis novamente esquadrinharam o local, procurando qualquer indicio de que aquilo havia sido um sonho, de que acordaria e que voltaria a sua vida normal. Mas, será que queria? Aquilo parecia perturbador, mas, ao mesmo tempo, todas as palavras pareciam fazer sentido. Lewis, o sátiro, pareceu perceber o que a menina pensava e simplesmente estendeu a mão, tocando-lhe e alguns fios de cabelo.
ㅤㅤㅤ─── Você tem mesmo noção do que acabou de me dizer? ─── Perguntou, repentinamente quebrando o silêncio que se instalara. ─── E o que é o Acampamento Meio-Sangue? Minha mãe sabe que estou aqui? E o que diabos era aquele bicho que nos atacou? Porque olha, é meio assustador, sabe?
ㅤㅤㅤ─── Uma coisa de cada vez. Sim, eu tenho. E o Acampamento Meio-Sangue é o lar de semideuses, pessoas que, como você, são filhas entre mortais e deuses. Lembra-se de histórias sobre o Olimpo? Zeus, Ares, Poseidon, Hera... Eles existem, Neri. Existe e vivem aqui, nos Estados Unidos. O Acampamento Meio-Sangue tem como finalidade proteger vocês, treiná-los para o que há lá fora… E sim, sua mãe sabe que você está aqui. Você pode, depois, entrar em contato com ela, embora eu ache que isso, por enquanto, não é uma boa ideia. Ele respirou fundo, procurando ar para continuar falando e, quando falou, estava mais sério: ─── Uma dracaena. Elas te caudas de serpentes, como você pôde ver. Elas são perigosas e não podem ser vistas por causa da névoa, que é...
ㅤㅤEla manteve-se calada, enquanto o outro tagarelava qualquer coisa sobre algo chamado “névoa”, e sobre como outros campistas chegavam de todos os cantos. Ela ouvia, mas seus pensamentos estavam longe, bem além do que qualquer um deles poderia imaginar naquele momento. Por algum motivo… Aquilo tudo ainda conseguia fazer mais sentido do que “a realidade”.
Idade: 11 anos
Destreza: Direito
Características:
Positivas: Agilidade, Aparência Inofensiva, Arte
Negativas código de honra, coração mole, curiosa
Qual seu/sua pai/mãe divino/a?
Poseidon
Quais as características físicas e de personalidade que lhe ligam a esta divindade?
Psicológicas: Sou a garota mais carinhosa que você poderá conhecer. Sou capaz de tudo para proteger alguém que amo, todos dizem que sou extremamente protetora. Não sou bem estudiosa (mas esforçada), o que me torna inteligente, esperta e criativa; adoro desafios e não sou muito fã das regras, o que me torna aventureira. Sou muito verdadeira, falo na cara mesmo, e detesto falsidade. Fui educada, mas a minha educação vai depender da sua, então se liga. Odeio magoar as pessoas a minha volta, e me apego facilmente às pessoas, o que não é uma qualidade a meu ver. Persistente, determinada, ousada e feliz pra caramba. Sou muito na minha, sossegada e tranquila, às vezes acham que eu não vejo, mas eu sei de tudo que acontece a minha volta. Sou chorona e sensível, mas não demonstro isso com frequência. Sou extremamente impulsiva, inconsequente e irresponsável, não diria bipolar, meu humor varia de acordo com as situações do dia-a-dia, se acontecer algo que me deixe muito nervosa, vou virar a cara e emburrar o resto do dia. Possessiva ao extremo, tornando-me até um pouco paranoica quando estou com ciúmes (o que é meu, é meu!).
Físicas: Os meus olhos possuem naturalmente uma coloração verde cristalinos. Os olhos têm uma simbologia antiga ligada á expressão de serem "o espelho da Alma da pessoa", tendo que cada um simbolize a Lua ou o Sol. Sendo assim, quando eles se tornam escuros, é como as fases da Lua e quando tomam o seu tom natural, são como a claridade do Sol. O meu cabelo é uma mistura, loiro-castanho, e com um comprimento longo, pois para mim, cortar o cabelo é simbolo de sacrifício. Normalmente, costumo usá-lo solto, com algum pequeno enfeite prendendo os cabelos que tapam o rosto. Tenho 48 quilogramas bem distribuídos, com 1 metro e 70 de altura.
Por que você acha que de fato este/a deus/a é seu/sua pai/mãe divino/a?
Porque sou como as ondas, sou calma, mas se mexer consigo te derrubar. Além disso eu admiro Poseidon, acho ele justo e carinhoso. É o único que me orgulharia se o tivesse como pai.
História:
Ela nasceu em meio a um inverno rigoroso de Williansport, Pennsylvania - EUA. Nevava, era uma madrugada escura e foram horas e horas de um parto cansativo e no qual Amelie desejava (e fazia de tudo o que podia) que tudo ocorresse bem e que a criança nascesse com vida e saudável. O parto foi feito dentro de um quartinho pequeno, com apenas uma vela acesa e uma parteira que gritava para que a mulher fizesse cada vez mais força. Loye estava ao lado da mulher, dando todo o apoio necessário e sempre a auxiliando com frases positivas. E em meio a gritos e dores, o bebê finalmente saiu do conforto do ventre. E é aqui que a história começa.
ㅤㅤNerisa cesceu entre Loye e Amelie. Desde pequena sabia que não era filha do homem ruivo, mas era tratada como uma filha como se fosse fruto do casamento de ambos. Não cresceu em um berço de ouro de uma família nobre - na verdade, isso seria tão clichê quanto dizer que “o bem sempre vence”. A família era numerosa - entre vários tios, tias e avós e primos e primas, e mesmo assim, Nerisa sempre sentia que ali não era seu lugar. Entre seus irmãos, era a mais peculiar: eles tinham os cabelos ruivos, como Loye. E os olhos eram de um tom ocre, intensos, ou verdes, como Amelie ou Loye - e eles tinham também as expressões brutas de Loye. Eram as misturas sempre perfeitas da família Bousier e Conteville. Ela, no entanto… Tinha os cabelos loiros como o sol - como sua mãe, e de feições delicadas. E os olhos… Azuis e intensos, atentos e sempre brilhantes. Amelie costumava lhe dizer que seus olhos transmitiam algo de seu pai - embora Nerisa sempre fosse quieta e até mesmo um pouco fria.
ㅤㅤCom o nascimento dos irmãos, Nerisa começou a ser tratada de maneira diferente. Não era mais como uma filha, mas como uma hóspede indesejada em casa. As brigas começavam em casa, geralmente com Loye bêbado. Mesmo sendo a mais velha, Nerisa era a menor dentre os nascidos.
somehow the pain inside your eyes is just the beginning...
Enquanto os irmãos estudavam em escolas particulares, a Nerisa cabia apenas o ensino público. A menina não participava de nenhum grupo além da Liga de Baseball, um time oficial da cidade - e era o único lugar em que Nerisa realmente se sentia bem. Tinha dezesseis anos e já havia sido expulsa de oito escolas, uma vez que situações complicadas surgiam quando ela menos esperava - havia ainda o fato de que ela, não necessariamente, sempre parecia estar no lugar errado, na hora errada. Ou que era um imã para problemas.
ㅤㅤO diagnóstico da dislexia e do déficit de atenção veio aos treze anos, após uma série de conversas com o orientador escolar, diálogos entre Amelie e Loye, e, também, muitas consultas a médicos. Precisou frequentar um psicólogo, uma vez que o orientador (O Sr. Marshall, um velinho curioso e gentil com a menina) dizia que a menina era isolada demais dos seus amigos. E, o que antes era facilmente insuportável já começava a se tornar um incômodo sem fim e Nerisa não sabia mais até quando iria aguentar toda aquela situação. E tudo se agravou quando, depois de algumas conversas escutadas atrás de portas, percebia que Loye estava começando a convencer Amelie de que Nerisa era um ser que não merecia tanto carinho, atenção e, quem dirá, viver sobre o mesmo teto que eles.
ㅤㅤFoi em uma surpreendente tarde de terça-feira em que sua vida começava a mudar, aos poucos. Sua mãe havia saído para uma reunião na escola dos irmãos, e Nerisa havia ficado, aparentemente, sozinha em casa. Chegou da escola mais cedo que o normal - uma vez que havia ganhado mais uma suspensão. Seus dias, aparentemente, estavam contados em mais uma das escolas. A loira largou a bolsa no chão e foi seguindo até a cozinha, faminta. Esticava o braço e ficava nas pontas dos pés para alcançar a caixa de cereal quando firmes mãos a seguraram pela cintura. Nerisa reprimiu um grito pelo susto e, ao virar-se, percebeu que seu rosto estava centímetros de distância ao do padrasto. O forte cheiro da bebida impregnava o ambiente e era impossível dizer que aquela era uma situação confortável. Os pedidos para que fosse solta foram se transformando em fortes tentativas de empurrões, até que ela finalmente conseguisse se desvencilhar. Houve o grito do homem, começando a perseguir a menina e, derrubando-a no chão, arrastou a loira para o porão da casa.
ㅤㅤAs mãos dele percorriam seu corpo com voluptuosidade, e por entre os gritos para que o homem parasse, Nerisa sentia ele começar a deslizar suas vestes para fora de seu corpo. As lágrimas fugiam dos orbes safira e os soluços começavam a escapar de si sem que a menina ao menos pudesse se controlar. O corpo de Loye movimentava-se sobre o seu, e a menina estava não apenas presa, mas visivelmente, sofrendo com tudo aquilo. A dor da humilhação era a pior. Seu corpo se debateu até o fim, implorando para que o padrasto parasse, para que ele a deixasse em paz. E, no fim, tudo foi em vão. Quando Loye levantou-se, com um sorriso de escárnio em sua face, a menina estremeceu e arranhou-lhe o rosto, revoltada. O homem ficou não apenas inconformado com aquilo, mas nervoso o suficiente para pegar a primeira coisa que tinha em alcance de suas mãos e golpeando a menina. Uma vez no estômago, duas nas costas. Os braços estavam arranhados, e pelo seu corpo inteiro encontravam-se hematomas. Ele havia não apenas tirado sua inocência, sua pureza. Havia feito com que a menina jurasse em nunca mais colocar os pés naquela casa.
“do you want to be different?”
Após o episódio do estupro, a menina sentia-se não apenas mais deslocada, como também, solitária. Suas notas - que já eram baixas - haviam caído mais ainda. Nunca foi de ter muitos amigos. No geral, as pessoas se afastavam por diversos motivos: fosse o mal humor que muitas vezes ela tinha, fosse a expressão mórbida ou até mesmo o fato de ser disléxica - e a lista apenas começava por aí. Com exceção de Lewis, um homem que trabalhava como zelador da escola onde a menina estudava. Era baixo, com uma expressão sábia e frequentemente era visto mancando. Tinha por volta dos quarenta anos e, dificilmente era pego de surpresa - sempre tinha uma resposta pronta na ponta da língua. Ele era um homem engraçado, divertido, e que muitas vezes fazia com que a menina pensasse antes de fugir, mas, daquela vez, não haveria Lewis ou qualquer outra pessoa que a impedisse. Sendo ele mais velho - e era a única pessoa em que a menina confiava -, por isso havia ligado para o amigo do celular da mãe, e contara que iria embora. E agora estava ali, no meio da madrugada, com uma velha mochila surrada, em frente a um casebre mal cuidado. Não sabia o porquê de ele ter sido tão ríspido, mas não poderia ir embora sem falar com o amigo. Sabia que ele vivia ali, mas em dois anos de convivência, nunca havia entrado naquilo que Lewis chamava de “residência”. Os dedos fecharam-se e ela bateu na porta uma, duas, três vezes. Chamou algumas vezes e, aparentemente, o fato de que Lewis ter ouvido sua voz foi o suficiente para que ele a abrisse. Usava um gorro sobre os cabelos loiros e curtos, e também estava usando uma estranha camisa alaranjada. Ia falar que ela estava ao contrário, mas ele a cortou com perguntas demais.
ㅤㅤㅤ─── O que você pensa que está fazendo aqui às duas da manhã, Nerisa? Eu te falei na droga do celular que não era para você vir, Nerisa! Pelo raio de Zeus, será que você nunca vai me escutar, garota?
ㅤㅤㅤ─── Eu vou embora. Eu tenho algumas economias e… Isso é cheiro de quê, Lewis?
ㅤㅤㅤ─── De nada! Olha: eu sei que está complicado, mas aguenta só mais um pouco, você conesgue. - Ele parecia implorar. Nerisa negou com a cabeça, escondendo as mãos dentro dos bolsos do casaco e dando um passo para trás.
ㅤㅤㅤ─── Isso aqui não é para mim, Lew. Eu trabalho até de garçonete, se for necessário, mas aqui, eu não fico. Minha mãe mal me olha, Loye tentou novamente tocar em mim. Meus irmãos e aquelas barangas que eu tenho que chamar de irmãs vivem para implicar comigo pelo fato de eu ser disléxica, e a minha única real amizade é você e… Lewis, pelo amor de Deus. Eu não vou aguentar mais isso. Eu preciso ir embora. Para qualquer lugar, onde quer que seja. Tenho dinheiro o suficiente para poder ir até, sei lá, Nova York. Isso contando, claro, que eu possa pegar uma carona com alguém... De preferência alguém que não vá querer me matar.
ㅤㅤㅤ─── Neri, e…
ㅤㅤㅤ─── Não, “Neri”, nada! Eu não vou ficar! Eu não deveria ter vindo, mas a situação agora está... ─── Interrompeu-se, franzindo o cenho. ─── Que barulho foi esse?
ㅤㅤㅤ─── Não se vire para trás, apenas corra. - avisou ele, ficando extremamente pálido e começando a puxar a garota para dentro de casa.
ㅤㅤO primeiro erro de uma pessoa quando ela diz “não faça tal coisa” em um momento crucial, é que o outro sempre irá fazer. É um reflexo humano, e com Nerisa Bousier não foi nada diferente. Os olhos intensos cor de safira se arregalaram em surpresa quando percebeu, com o coração quase fugindo por entre os róseos lábios, que haviam duas grandes caudas nos lugares de pernas, e que o corpo era metade serpente e metade mulher. A pele, mesmo sobre a luz do luar, era esverdeada. A última coisa que Nerisa conseguiu ouvir foi um silvo alto, e depois, Lewis começava a puxá-la para dentro do casebre. Nerisa percebeu várias latas de refrigerante mastigadas, e quando ia começar a perguntar o que estava havendo, Lewis apenas abriu a porta dos fundos, sem quaisquer explicações. Começavam a cruzar o enorme terreno, e quando ouviram um estrondo alto, perceberam que o monstro estava brandindo uma lança, destruindo o lugar.
ㅤㅤㅤ─── Como eu ODEIO monstros! - Ouviu o mais velho gritar ao seu lado, correndo junto a ela. Ofegante, Nerisa diminuiu um pouco o passo, alarmada.
ㅤㅤㅤ─── Certo, acho que é hora de você me explicar o quê está acontecendo, e caramba, como você tá correndo assim?!
ㅤㅤㅤ─── Escuta. Não é hora para explicação, e muito menos para você dar uma de rebelde sem causa e se recusar a correr. Não está vendo a minha casa sendo destruída? Então, você não vai querer aquela lança atingindo o seu corpo, então sugiro que você comece a correr, não olhe para trás e não pare, por nada nesse mundo. Estamos entendidos?
ㅤㅤEla não queria acreditar, mas em uma situação como aquela, que outra opção tinha? Apenas acelerou o passo, sequer o respondendo, e começando a correr de maneira rápida. Queria se salvar, uma vez que tinha a sensação que, se não o fizesse, acabaria servindo de refeição noturna para aquela coisa que a seguia. Lewis gritou qualquer coisa e Nerisa, teimosa como era, virou-se para trás. A criatura estava próxima demais, e a loira já estava cansada de tanto correr. As caudas agitavam-se, nervosas, e uma delas atingiu Lewis, que foi brutalmente lançado para longe.
ㅤㅤO medo já começava a tomar conta da situação quando as garras do monstro por pouco não a feriram brutalmente. O corpo caiu sobre o chão, e a garota apenas teve tempo de rolar para o lado, desesperada, e arrastar-se, procurando fugir de uma vez. Lewis parecia estar começando a voltar a si quando Nerisa sentiu as garras afiadas arranharem a perna. A calça que usava foi rasgada, e o sangue que começava a jorrar eram apenas parte da dor que ela sentia. Nerisa virou-se de último segundo e, repentinamente, o monstro hesitou. Assustada, a menina apenas teve tempo de aproveitar o segundo breve de hesitação para sair correndo em disparada para onde Lewis estava. Ele a encontrou no meio do caminho e a observou, assombrado.
ㅤㅤA loira não sabia, mas seus olhos tipicamente azulados haviam se transformado em uma cor púrpura intensa e que, de alguma forma, havia feito com que a lâmia parasse de atacar por poucos segundos. Não teve tempo para ouvir qualquer uma das palavras de Lewis, que tagarelava desesperado sobre como empunhar uma espada: simplesmente segurou de maneira firme o objeto e, quando o monstro se aproximou, desviou.
ㅤㅤA lança da besta foi em sua direção, mas Lewis começou a correr em direção a criatura, tentando chamar sua atenção e, antes que ela pudesse avisar para que o homem tomasse cuidado, o mesmo foi atingido pelas garras da criatura. Ela sentiu o impacto da cauda contra seu corpo e foi arremessada para longe, metros e metros de distância. Agachou o corpo e quando a cauda novamente bateu a centímetros de si no chão, acabou sendo erguida no ar. Tinha ferimentos pelo rosto e alguns no braço, e finalmente conseguiu manter-se de pé. A cauda veio em sua direção e a menina pulou com dificuldade, cortando o ar com a espada que carregava e que havia sido dada por Lewis. Não era tão pesada, mas era diferente do que qualquer outra coisa. Seu corpo ficou mais dolorido ainda por conta do impacto contra o chão, e quando as garras novamente tentaram a atingir, a menina abaixou-se a tempo, conseguindo assim levantar-se novamente e cortar o ar horizontalmente; a lâmina acertou o braço da lâmia, que finalmente recuou por poucos segundos e Nerisa aproveitou-se da situação para poder golpeá-la próxima na cauda direita. Afastou novamente o corpo e antes que a criatura tivesse realmente tempo de reagir, a menina golpeou com força uma das caudas. Olhou para o pedaço - mesmo que pequeno - que havia cortado fora e o momento em que abaixou a guarda foi o suficiente para que seu corpo novamente fosse lançado para longe. A dor passou por seu corpo inteiro e a menina avistou o monstro aproximar-se com mais velocidade, nervosa - talvez pelo pedaço do corpo que havia perdido - e quando a lâmia estava próxima, a garota rolou para o lado, novamente. Empunhou a espada, levantando-se. Primeiro usou o próprio corpo para investir contra a criatura, que mesmo que não recuara, estava próxima o suficiente. Nerisa cortou o ar várias vezes até que percebesse que a cauda estava com vários cortes, e o tilintar da espada contra a lança, uma contra a outra, era o suficiente para que fosse aterrorizante por si só.
ㅤㅤTomou impulso com seus pés e saltou, girando o corpo com dificuldade, mas conseguindo aplicar força o suficiente em um golpe que atingiu uma das mãos do monstro - sua cintura, porém, recebeu um profundo corte que foi o motivo pelo grito de dor que ecoara na noite. Ela voltou para trás e quando a criatura avançou novamente, foi o suficiente para que a menina deixasse a espada bem empunhada. Assim que a lâmia contra atacou com desejo na direção da menina, inclinando o corpo para frente, pronta para lhe agarrar e, talvez a devorar, Nerisa esperou que se aproximasse o suficiente até fincar a lâmina no pescoço do monstro. Uma nuvem de fumaça explodiu no ar, e a loira fechou os olhos, esperando para o pior.
ㅤㅤMas o pior não veio. O corpo caiu contra o chão e, a última coisa que a garota se lembrava, eram das dores que percorriam todos os membros do corpo.
it's all a game, avoiding failure...
Os olhos abriram-se com dificuldade. Ela não sabia como realmente havia chegado até ali, mas apenas sabia que o local era claro, confortável, e todo o seu corpo parecia clamar por mais algumas horas de descanso. Tinha vários curativos sobre seus braços, pernas, a cintura estava enfaixada e alguns band-aids sobre suas bochechas e testa. A dor de cabeça que a atingiu fez com que um gemido de dor escapasse e ela ofegou baixinho, tentando se movimentar. Alguém se aproximou, levou a mão até sua testa e resmungou algo. Com dificuldade, a garota abriu os olhos, piscando algumas vezes.
ㅤㅤㅤ─── Onde diabos eu estou? ─── questionou, novamente fechando os olhos e tentando sentar-se. Imediatamente mãos firmes fizeram com que ela novamente se deitasse e a loira apoiou a cabeça no travesseiro. Ouviu algumas vozes e esforçou-se para não resmungar diante tanto barulho.
ㅤㅤㅤ─── Oi, Neri! ─── uma voz familiar fez com que seu coração se enchesse de uma profunda esperança e, ao abrir os olhos, fitou Lewis… Mas, estranhamente, estava diferente. A primeira coisa que percebeu é que estava sem o gorro e que possuía dois chifres por entre os loiros fios. A segunda coisa que percebeu é que ele estava mais alto e... Sem calça. Nerisa afastou os olhos, perturbada, mas não muitos segundos depois voltou a observar o amigo. ─── Como se sente?
ㅤㅤㅤ─── Como se uma manada de elefantes tivesse passado por cima de mim. - Parou, estreitando os olhos. ─── Tive um sonho maluco e agora penso que devo estar tendo visões, porque estou vendo chifres na sua cabeça e… Suas pernas estão transformadas em patas de bode.
ㅤㅤㅤ─── Aquilo não foi um sonho. E eu sou um sátiro.
ㅤㅤㅤ─── Perdão? O que quer dizer com “não foi um sonho”? Olha, eu devo ter batido a cabeça e você é algum fruto da minha imagina- AI! ISSO DOEU! ─── Reclamou, ao ter o braço beliscado de maneira forte, e fechou a expressão, irritada. ─── Certo. Você não é uma ilusão. Mas onde eu estou, e como eu cheguei aqui, Lewis?! Se é que esse é seu nome.
ㅤㅤㅤ─── Depois do ataque, eu comecei a te carregar para a cabana. Você estava desacordada, e eu precisei entrar em contato com o Acampamento. Eles me falaram que você deveria logo ser levada daqui, e, bom, eu não costumo contrariar muito as ordens deles, porque sei que é importante. De qualquer forma, eu te carreguei até a minha cabana (ou o que restava dela). Em alguns momentos você acordava, mas não ficava muito tempo consciente. Consegui um táxi, peguei algumas das suas economias e… Seguimos de cidade em cidade, até chegarmos aqui. Não foi uma viagem muito demorada, e me desculpa se gastei uma boa parte do seu dinheiro, mas… Foi por um bem maior. Agora estamos aqui, no Acampamento Meio-Sangue.
ㅤㅤNerisa ouvia tudo atenta demais, imóvel e respirando com uma certa dificuldade. Seus olhos azuis novamente esquadrinharam o local, procurando qualquer indicio de que aquilo havia sido um sonho, de que acordaria e que voltaria a sua vida normal. Mas, será que queria? Aquilo parecia perturbador, mas, ao mesmo tempo, todas as palavras pareciam fazer sentido. Lewis, o sátiro, pareceu perceber o que a menina pensava e simplesmente estendeu a mão, tocando-lhe e alguns fios de cabelo.
ㅤㅤㅤ─── Você tem mesmo noção do que acabou de me dizer? ─── Perguntou, repentinamente quebrando o silêncio que se instalara. ─── E o que é o Acampamento Meio-Sangue? Minha mãe sabe que estou aqui? E o que diabos era aquele bicho que nos atacou? Porque olha, é meio assustador, sabe?
ㅤㅤㅤ─── Uma coisa de cada vez. Sim, eu tenho. E o Acampamento Meio-Sangue é o lar de semideuses, pessoas que, como você, são filhas entre mortais e deuses. Lembra-se de histórias sobre o Olimpo? Zeus, Ares, Poseidon, Hera... Eles existem, Neri. Existe e vivem aqui, nos Estados Unidos. O Acampamento Meio-Sangue tem como finalidade proteger vocês, treiná-los para o que há lá fora… E sim, sua mãe sabe que você está aqui. Você pode, depois, entrar em contato com ela, embora eu ache que isso, por enquanto, não é uma boa ideia. Ele respirou fundo, procurando ar para continuar falando e, quando falou, estava mais sério: ─── Uma dracaena. Elas te caudas de serpentes, como você pôde ver. Elas são perigosas e não podem ser vistas por causa da névoa, que é...
ㅤㅤEla manteve-se calada, enquanto o outro tagarelava qualquer coisa sobre algo chamado “névoa”, e sobre como outros campistas chegavam de todos os cantos. Ela ouvia, mas seus pensamentos estavam longe, bem além do que qualquer um deles poderia imaginar naquele momento. Por algum motivo… Aquilo tudo ainda conseguia fazer mais sentido do que “a realidade”.
Nerisa Bousier- Poseidon
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Re: Teste de Nerisa Bousier *-*
Sua ficha foi aprovada, porém, terás de fazer um teste extra. As devidas instruções estão no tópico. Boa sorte.
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